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A luta por inserção da mulher com câncer no mercado de trabalho também é cuidado

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Por Daniela Marques Farina

Historicamente, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, em 8 de março de
1977, o Dia Internacional da Mulher. Este marco foi resultado da luta e do
protagonismo de mulheres, principalmente trabalhadoras, que buscavam equidade de
direitos em um momento do mundo em que estávamos sujeitas a contextos
trabalhistas de insalubridade, baixa remuneração e negação de direitos políticos.
Graças à mobilização de nossas antecessoras, hoje usufruímos de conquistas
históricas: direito a formação acadêmica, direito ao voto, e criminalização da violência
à mulher.

De acordo com dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), mais de 48% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Isso demonstra
uma participação central do gênero enquanto responsáveis pela gestão de suas casas e
famílias. E, ainda que muito tenha sido reivindicado, ainda nos é imposto um cenário
de desvantagens salariais e menor disponibilidade de vagas de emprego.

E as mulheres com câncer?

Felizmente, com o avanço nos tratamentos, as taxas de sobrevivência de pacientes
com câncer têm aumentado. Com isso, é preciso que nos debrucemos em ações para o
cuidado à qualidade de vida como parte da jornada oncológica, pois a repercussão
psicológica se dará a partir da vivência deste adoecimento e suas transformações.
Um estudo realizado com mulheres após diagnóstico de câncer de mama apontou que
estas tiveram repercussões em sua atividade de trabalho e desvantagens em retornar
ao mercado em relação ao resto da população, até mesmo aquelas pacientes que já
haviam encerrado seu tratamento.

Tendo em vista que dezenas de milhares de mulheres recebem diagnóstico de câncer
por ano, e considerando tanto a disparidade de retomada das atividades quanto o
lugar de chefia em seus lares, construir meios para reabilitação e reinserção no
mercado de trabalho deve ser tratado como parte da assistência integrada e cuidado
global.

O resgate da identidade das pacientes a partir das atividades de trabalho construídas
durante suas histórias possibilita o fortalecimento da autoestima e autonomia em um
momento marcado por perdas importantes. Organizar estratégias e articular
perspectivas promove um maior investimento emocional na elaboração de novos
sentidos para a vida.

Pensando saúde mental de mulheres com câncer enquanto luta pela reivindicação do lugar de existência social

Quando pensamos em saúde mental, para além das ações individuais, podemos
expandir e convocar o autocuidado para o lugar do coletivo. Como vimos, a
emancipação feminina ao longo da história possibilitou a nossa integração social
enquanto cidadãs potentes. Lutar pela retomada dessa conquista tão importante para
mulheres postas em um papel de fragilidade social diante de seu adoecimento,
respeitando os limites apresentados, significa lutar pela permanência da conquista de
um lugar de existência.

Nesse sentido, é preciso dar luz aos diretos dispostos às pacientes e promover meios
de acesso às informações que previnam prejuízos trabalhistas. Também, ações têm
sido desenvolvidas em cada vez mais projetos de apoio a pacientes oncológicos em
busca de atividade laboral, dispondo de programas para capacitações, elaboração de
currículos e preparação para posicionamento profissional.

A integração da promoção de qualidade de vida de pacientes com câncer a partir da
perspectiva de responsabilidade desse cuidado tem sido cada vez mais discutida e é
preciso que essa luta se mantenha pulsando. Rememorar os caminhos traçados para
conquistar a possibilidade de ser mulher é nos atentar à manutenção da dignidade em
manter viva a nossa potência: tanto para além do universo oncológico como dentro
deste.

Daniela Marques Farina é Mulher; Psicóloga Clínica e Bacharel graduada pela
Universidade de São Paulo (USP); pós-graduada em Atenção ao Câncer pelo AC
Camargo Cancer Center. Atualmente, integra a equipe de Psicologia do Núcleo Pró-
Creare e atua como Psicóloga Hospitalar assistencial no Hospital São Luiz do
Jabaquara, em São Paulo (SP). Compõe o Comitê Científico de Psicologia do Instituto
Vencer o Câncer.

Referências:
“48% dos lares brasileiros têm mulheres como chefes de família”. Disponível em:
https://www.terra.com.br/economia/48-dos-lares-brasileiros-tem-mulheres-como-
chefes-de familia

“Apesar do forte apelo à mercantilização, Dia Internacional da Mulher segue relevante
para a luta por equidade de gênero.” Disponível em:
https://jornal.unesp.br/2024/03/08/apesar-do-forte-apelo-a-mercantilizacao-dia-
internacional-da-mulher-segue-relevante-para-a-luta-por-equidade-de-genero/

“Câncer de mama dificulta a reinserção no mercado de trabalho para as mulheres”.
Disponível em: https://www.anamt.org.br/portal/2019/03/08/cancer-de-mama-
dificulta-a-reinsercao-no-mercado-de-trabalho-para-as-mulheres/

“Conquistas do feminismo no Brasil: uma linha do tempo”. Disponível em:
https://nossacausa.com/conquistas-do-feminismo-no brasil

“O câncer e o trabalho: como as empresas tratam quem tem a doença”. Disponível em:
https://vocerh.abril.com.br/politicasepraticas/o-cancer-e-o-trabalho-como-as-
empresas-tratam-que-tem-a-doenca

“Retorno ao trabalho após o câncer: como é para as mulheres”. Disponível em:
https://revista.abrale.org.br/direito/2023/03/retorno-ao-trabalho-apos-o-cancer-
como-e-para-as-mulheres/

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