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Mieloma múltiplo tem tratamento – conheça as opções terapêuticas para combater este tipo de câncer do sangue

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Breno Gusmão, hematologista na BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo

Neste Março Borgonha, mês de conscientização do mieloma múltiplo, quero abordar as opções de tratamento – e são muitas! – que vêm trazendo resultados clínicos positivos e, principalmente, qualidade de vida aos pacientes. 

O que é o mieloma múltiplo

Antes de entrarmos nos tratamentos, é importante explicar este tipo de câncer. Ele acontece, na maior parte dos casos, em pessoas acima dos 60 anos de idade e tem início na medula óssea. Os linfócitos se diferenciam para, então, tornarem-se plasmócitos, que são responsáveis pela produção de imunoglobulinas de vários tipos (anticorpos). Aqui ocorre uma mutação celular em um ou mais genes. Eles passam a produzir plasmócitos anormais (doentes), que fabricam imunoglobulinas anormais e de forma repetida, chamadas de proteína monoclonal ou proteína M.

É muito importante ficar atento aos sinais e sintomas do mieloma múltiplo, como anemia, fraqueza e dores ósseas. O diagnóstico precoce faz diferença para os melhores resultados no tratamento.

É possível tratar!

Agora sim, vamos falar sobre cada um dos tratamentos para o mieloma múltiplo. A quimioterapia é a opção mais antiga e ainda comum aqui no Brasil. Vários medicamentos potentes são usados em conjunto, com a intenção de eliminar as células doentes do organismo.

Os imonumoduladores, como a Talidomida, a Lenalidomida e a Pomalidomida apresentam resultados importantes, porque atuam diretamente no sistema imunológico do paciente, ajudando a eliminar as células cancerígenas.

Já os inibidores do proteassoma chegaram para trazer resultados ainda melhores. O Bortezomibe é indicado para o tratamento de primeira linha em pacientes com ou sem indicação de transplante de medula óssea. Já o Carfilzomibe e Ixazomib podem ser usados por pacientes que já foram tratados com outros medicamentos, mas não apresentaram respostas. Ambos inibem a ação da proteassoma, provocando várias reações e promovendo a morte das células doentes.

Imunoterapia, uma revolução no tratamento do MM

O sistema imune de nosso corpo é responsável por detectar perigos para o organismo, como vírus e bactérias. A imunoterapia, que utilizará medicamentos também chamados por anticorpos monoclonais. Esta terapia ataca o alvo da célula, mas também estimula o próprio sistema imunológico do corpo a atacar as células cancerígenas.

Em 2017 chegou ao país o Daratumumabe, imunoterápico para uso em pacientes que já haviam recebido algum tratamento previamente. Mais recentemente, ele também foi autorizado para pacientes recém-diagnosticados. O Elotuzumabe, outro anticorpo monoclonal com diferente alvo de ataque, também está aprovado no Brasil. Ele pode ser administrado em pacientes já tratados previamente e deve ser combinado com imunomoduladores.

Os anticorpos biespecíficos, por sua vez, objetivam realizar uma ponte entre os linfócitos T do paciente e as células cancerígenas, com biomarcadores como a proteína BCMA, combatendo o mieloma múltiplo. 

Pacientes recém-diagnosticados ou recidivados, fiquem atentos! Novos tratamentos estão vindo por aí

Os pesquisadores continuam suas buscas incessantes por novas drogas e combinações terapêuticas que tragam bons resultados e, claro, qualidade de vida aos pacientes de mieloma múltiplo.

No finalzinho de 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou o uso do Daratumumabe em combinação com a Lenalidomida e Dexametasona para pacientes recém-diagnosticados. Cerca de 70,6% dos pacientes presentes no estudo clínico MAIA, fase 3, não apresentaram progressão ou morte por conta do mieloma múltiplo.

CAR-T Cell no combate ao mieloma

Ainda considerada uma terapia nova, a CAR-T Cell com certeza tem despertado o interesse de pesquisadores, médicos e, principalmente, pacientes. Seus resultados estão sendo muito promissores no tratamento da leucemia linfoide aguda e também de alguns tipos de linfomas. Mas o mieloma múltiplo não está fora dessa lista.

A ideia do CAR-T é isolar um tipo de linfócito T, trabalhá-lo em laboratório, e depois inseri-lo no paciente para que o câncer seja combatido. Também usando a proteína BCMA como marcador cancerígeno, cerca de 85% dos pacientes que passaram pelos estudos apresentaram boas respostas. Mas é muito importante que outros marcadores do mieloma também sejam encontrados. Assim, esta terapia conseguirá mostrar melhores e mais opções de resultados.

Transplante de medula óssea

Como vimos, são várias as opções de tratamentos que possibilitam a remissão da doença. O transplante de medula óssea será realizado quando não tiver contraindicação.

A opção indicada é o TMO autólogo, quando a medula transplantada é a do próprio paciente. Este procedimento será realizado após análise do estadiamento da doença, tratamento quimioterápico para a redução da doença e da avaliação das condições de saúde do paciente. Mas é importante mencionar que a idade não é mais um fator que impossibilita a realização do transplante. Ou seja, se o paciente é idoso, mas encontra-se bem, terá indicação para o TMO.

mieloma múltiplo não tem cura. Mas é possível, sim, entrar em remissão completa da doença (quando os exames não mostram mais células doentes no organismo). O monitoramento com o especialista será sempre fundamental, mesmo nestes casos.

Breno Gusmão é hematologista na BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer

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