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Equipe multiprofissional, tratamento multimodal e personalizado, análise genética: os diversos fatores que mudam a história do câncer colorretal

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Medicina personalizada, novos tipos de medicamentos, tratamento multimodal com a união de variadas técnicas e um time multiprofissional que trabalha em prol da cura do paciente. São esses alguns dos fatores que estão mudando a história de vários tipos de tumores, como um dos mais prevalentes no Brasil e no mundo: o câncer colorretal.

“O tratamento hoje é mais complexo, não apenas com o oncologista clínico; envolve o cirurgião, o radio-oncologista, nutrólogo, fisioterapeuta, psicólogo e ainda um oncogeneticista. Todos precisam atuar juntos”, avalia Pedro Uson, oncologista do Hospital Albert Einstein e membro do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer. “A oncogenética é um dos grandes pilares”.

E foi justamente a avaliação genética que possibilitou a Mario Lott escrever uma história diferente. “No meu caso, de tumor colorretal com metástase, os estudos demonstram que quando se trata com quimioterapia a tendência é 10% das pessoas terem sobrevida de mais de três anos e com imunoterapia 50% das pessoas têm cura”, conta. Ele explica que a precisão no tratamento foi possível graças ao resultado dos seus exames genéticos que apontaram Síndrome de Lynch – também conhecida como síndrome do câncer colorretal hereditário não-polipoide. As pessoas com esse tipo de alteração genética têm risco aumentado para alguns tumores, como câncer de estômago, útero e cólon. 

“Deus tem sido bastante bom com a gente e tudo indica que estarei nesses 50%”, celebra os bons resultados do tratamento. Sua jornada como paciente oncológico começou de forma abrupta – em abril de 2022 ele estava então com 57 anos e fez sua rotina periódica de saúde: colonoscopia e uma bateria completa de exames, incluindo de imagens, que não apontaram nenhuma alteração.

Quase um ano e meio depois, em agosto de 2023, uma dor o levou ao hospital – era um problema muscular, mas os exames de imagem indicaram que havia algo no intestino. Com uma nova colonoscopia descobriu o câncer colorretal, com um tumor originário no intestino grosso com metástase para o intestino delgado. No mesmo mês passou por uma cirurgia, que correu bem, com a retirada dos dois tumores. “Constataram que eu estava com os linfonodos afetados. Por mais que a cirurgia tenha tirado os mais afetados, não foi possível remover tudo”, lembra. “O exame genético recomenda as drogas sugeridas para o tratamento e estou usando a mais indicada”.

O tratamento com Pembrolizumab teve início um mês após o procedimento cirúrgico. “No PET Scan antes da cirurgia apareceram os tumores e os linfonodos afetados. Depois da cirurgia apenas os linfonodos, que estavam crescendo. Comecei o tratamento com imunoterapia, quatro meses depois fiz novamente o PET Scan e os linfonodos pequenos praticamente desapareceram e os maiores diminuíram bastante”.

Imagem mostra: mario lott e familia

Mario Lott completou seis meses do tratamento que fará por dois anos. “Eu trabalho duas semanas nos Estados Unidos e venho para São José dos Campos (SP), onde moro com minha família. Faço o exame de sangue e com o resultado tenho a consulta médica e a aplicação da imunoterapia, em São Paulo. No mesmo dia volto para casa. O resultado tem sido muito bom, com pouquíssimo efeito colateral, me sinto muito bem”, comemora. “O pessoal fica admirado porque continuo fazendo natação, pilates, caminhando, andando de bicicleta. Essa é inclusive uma das coisas que o médico sempre disse que é importante: a atividade física. Estou muito bem, graças a Deus”.

Para compartilhar sua experiência, deixa duas importantes mensagens: fazer acompanhamento rotineiro de saúde, com todos os exames indicados, como a colonoscopia; e lembrar que a Medicina avançou bastante e tem muitas boas opções, como a imunoterapia. Outra coisa essencial, avalia, é considerar a questão genética, como ocorreu no seu caso. “Meus filhos e meu irmão estão também fazendo a análise de DNA para verem se possuem a mesma alteração e, se for o caso, terão um acompanhamento mais atento, começar os exames mais cedo. Com o exame genético você pode ter o tratamento mais indicado para o seu caso”.

Hábitos e hereditariedade são os principais riscos

Por que, mesmo tendo exames para diagnosticar precocemente e até mesmo evitar o desenvolvimento do câncer colorretal, esse tipo de tumor é ainda tão incidente? 

“Porque ele tem uma relação muito intrínseca com os hábitos de vida”, ressalta Pedro Uson.

Além da pesquisa de sangue oculto nas fezes, outro importante exame é a colonoscopia, que serve não apenas para diagnosticar, mas também possibilita ressecar uma lesão inicial antes de virar um câncer colorretal. Entretanto, o oncologista destaca que nem todos os tumores desse tipo evoluem a partir de um pólipo. “Ainda assim a colonoscopia é importante para identificar em estágio inicial antes mesmo de ter sintoma”, afirma. “Cerca de 15% a 20% dos casos têm histórico familiar, há síndromes que aumentam o risco hereditário. Entretanto, a maioria dos casos é relacionada aos hábitos”. 

Ele alerta para as recomendações de rastreamento: com o aumento da incidência de tumores em pacientes jovens, os guidelines estão passando por alterações. A indicação para colonoscopia, que era a partir dos 50-55 anos, já tem recomendação por alguns guidelines para ser realizada a partir dos 45 anos. Depois a periodicidade dependerá dos resultados. “Se não tem nenhum achado anormal, há indicações que recomendam repetir a cada cinco ou dez anos. Mas se tem, por exemplo, um pólipo ou adenoma de baixo ou alto grau, essa periodicidade irá mudar e pode repetir a cada dois ou três anos. Essa definição é personalizada de acordo com os achados”.

 

Pontos de atenção indicados pelo oncologista

NEGATIVOS

  • Cigarro aumenta o risco de câncer – quando fuma, além de inalar os componentes que se difundem pelo sangue para o corpo inteiro, a pessoa também engole esses componentes tóxicos, que passam pelo trato digestivo e aumentam o risco de câncer.
  • O excesso de álcool também é um fator de risco – quanto maior a ingestão, maior o risco.
  • Também aumentam o risco de desenvolvimento de câncer colorretal: consumo excessivo de carne vermelha, embutidos, enlatados, alimentos ultra processados, e em geral alimentos que passam pelo método de esquentar com carvão, como churrasco e defumados, com componentes de carbono, porque geram radical livre. Esses elementos são categorizados pela Organização Mundial da Saúde como nível 1 carcinogênico e devem ser evitados.

POSITIVOS

  • Consumo de frutas, verduras e legumes são bons hábitos para prevenir desenvolvimento de tumores, especialmente do aparelho digestivo.
  • Há dados indicando que castanhas de Pará e caju têm componentes antioxidantes. Um estudo demonstrou que pacientes que operavam câncer de intestino e tinham consumo regular de cerca de três porções semanais dessas castanhas diminuíam o risco de recidiva.
  • Ter regularidade no consumo de alimentos que não são ultra processados.
  • Prática de atividade física – há dados demonstrando que o efeito benéfico é bem evidente na redução do risco de câncer.

Novas opções aumentam oportunidades nos tratamentos

A jornada de Mario Lott comprova como os avanços na Medicina em tratamento são animadores e trazem novas perspectivas. A maioria dos pacientes de câncer colorretal, avisa Pedro Uson, passará por cirurgia, principalmente quando o tumor está em estágio inicial. “Nos estágios de 1 a 3 a maioria se cura com cirurgia”. 

A partir do resultado da biópsia o especialista poderá indicar um tratamento adjuvante, como aplicação de quimioterapia, ou uso de estratégias adicionais em casos especiais, como a imunoterapia, terapia alvo, medicina de precisão com medicamentos que, por exemplo, bloqueiam vias importantes do tumor, como os inibidores de tirosina quinase. “Alguns pacientes, mesmo com metástase, podem ser curados com estratégia combinada, que chamamos de tratamento multimodal na Oncologia, uma das mais importantes novidades”.

Os avanços nas descobertas possibilitam esse tipo de especialização, como a constatação de que um terço ou mesmo quase metade dos pacientes que têm metástase, esta acontece no fígado. Por isso, avisa, grande parte dos centros de excelência em Oncologia já possuem métodos para tratar esses casos. “A grande maioria dos centros de excelência no país conta com estratégias para tratar as metástases do fígado. Você pode, por exemplo, usar quimioterapia dentro do fígado, que chama quimioembolização hepática (técnica pouco invasiva em que um médico radiologista introduz medicamentos quimioterápicos no interior do tumor e interrompe o fornecimento de sangue aos vasos que o alimentam), ou fazer estratégias de ablação (destruição do tumor com técnica térmica, química ou elétrica), entre outras intervenções oncológicas”, detalha. “O tratamento mudou e temos muito mais armas com um time multiprofissional”.

 

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