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De jovem para jovem

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Instituto Vencer o Câncer traz histórias inspiradoras de pacientes no mês do Dia Mundial do Câncer

O Dia Mundial do Câncer é uma data especial para Letícia Prates da Fonseca Bueno, que há 8 anos, no dia 4 de fevereiro de 2014, recebeu seu diagnóstico de câncer de mama. Ela tinha então 25 anos e um dos principais desafios era encontrar outras pacientes na mesma faixa etária para trocar informações. Foi justamente por sentir dificuldade de compartilhar com pessoas da sua idade que decidiu se dedicar a ajudar jovens que recebem diagnóstico de algum tipo de tumor.

A vontade de ser uma pessoa que faz a diferença no mundo começou logo após o tratamento, quando resolveu ser voluntária na Índia. “Foi uma aventura. Era 2016, fazia pouco mais de um ano do fim do primeiro tratamento e o cabelo ainda estava crescendo, minha imunidade estava baixa, eu precisava ter cuidado com o que comer”, recorda Letícia, que participou de uma ação da Aiesec, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) voltado a jovens de 18 a 30 anos. “Fui sozinha e fiquei dois meses lá nessa iniciativa pelo empoderamento feminino. Vimos muita miséria, pobreza menstrual. As mulheres usam paninhos, pedaços de roupa que forram com areia de um córrego poluído que tem próximo, acabam morrendo de infecção e não sabem porquê. Ajudamos com cuidados básicos, como falar de lavar as mãos, e também ensinamos inglês”.

De volta ao Brasil, intensificou seu trabalho com jovens pacientes de câncer nas redes sociais. “Comecei uma série no Instagram @lele_leticia.prates em que conto minha história, fiz também um ensaio para empoderamento, para mostrar que mesmo tendo câncer continuo firme e forte, estimulando outras mulheres em sua autoestima. No Outubro Rosa do ano passado estava bombando, mas precisei parar por motivos de família”.

Em novembro, a mãe de Letícia, que estava com câncer de intestino e metástase no fígado, começou a piorar. Como elas moram em Taubaté, interior de São Paulo, passou a levar a mãe a cada 15 dias à capital para o tratamento.  “Descobriu um pouco tarde, não teve mais jeito”, lamenta, contando que a mãe acabou falecendo naquele mesmo mês. “Tive que ser forte de novo”.

Sua motivação nasce para ajudar outras pacientes, e ela comenta que vai retomando o projeto, no seu ritmo. “Não adianta querer voltar com tudo e não estar bem. Aos poucos estou voltando para a academia, para uma alimentação saudável, falando com a galera sobre a importância disso”.

Espera inspirar com sua história, contando as conquistas e os desafios, chamando atenção ao fato de que jovem também tem câncer e as pessoas precisam estar mais atentas a isso. “Eu só estou aqui de teimosa, porque se fosse depender do médico… Ele disse que era só uma bolinha, para não me preocupar. Falou: ‘na sua idade? Imagina. Na sua idade não tem nada’. Eu que fui atrás para descobrir que não era só uma bolinha. Olha o nada: estou mastectomizada, fiz várias quimioterapias, mas estamos aqui”.

Segue fazendo acompanhamento de três em três meses e trata com hormonioterapia. “Meu tumor era receptor de hormônio. O tratamento ajuda a parar de rodar hormônio no meu corpo, o tumor para de se alimentar e morre de fome”, esclarece. “Vou fazer por bastante tempo porque sou nova, estou induzida à menopausa desde os 29 anos. Tomo remédio em casa, trato da parte emocional com psicólogo e psiquiatra, cuido do bem estar da mente, porque é muita coisa e chega uma hora que você não consegue dar conta sozinha. Busco sempre a parte multidisciplinar, acho importante cuidar do corpo por inteiro. Faço atividade física para manter o meu corpo o mais forte possível”.

Esse é o pensamento que compartilha com outras pacientes, contando sua própria história de persistência na prática de exercícios, como aconteceu quando descobriu a metástase no começo de 2017. “Tinha menos de 1% de chance de dar certo. Meu caso era considerado perdido pela literatura. Fiz um acordo com o médico de fazermos um tratamento bastante forte. Ele me disse que por ser jovem, estar com 28 anos e não ter comorbidades, eu aguentaria e que era minha chance, que se o corpo respondesse, mais para a frente poderíamos buscar uma janela de cura”, diz. “Eu fazia quimioterapia, descansava no dia seguinte, mas depois ia para uma academia só de mulheres. Eu desmaiava na aula. As professoras já sabiam: eu deitava perto da parede, colocava os pés para cima e desmaiava. Elas viravam o ventilador no meu rosto, porque estava com muito calor. Dali a pouco eu levantava e continuava a aula. Seguia firme e forte fazendo exercícios, comendo direitinho, claro que sempre respeitando meu corpo”.

Essa é a mensagem que quer levar, de autocuidado, de esperança, e para isso pretende aumentar os seguidores para abranger ainda mais pessoas. “Quero mostrar: olha, galera, o câncer não é uma sentença de morte, mas também não é uma doença que você tem direito de ficar quieto esperando ser curado, como uma gripe ou outra doença viral, que vai cuidar dos sintomas e não da causa. O câncer precisa que o paciente seja proativo para sua recuperação, saber que deverá comer melhor, fazer exercício, tomar suplementação vitamínica para ficar forte e superar. E a mensagem mais importante é a prevenção, porque se tiver uma vida saudável, a chance de ter câncer é menor”.

Mesmo sem estar tão ativa no seu perfil, Letícia segue respondendo às muitas pessoas que entram em contato com ela, de várias idades, porque viram sua história e buscam inspiração e informação. E é exatamente isso que ela ama e quer fazer: “ser uma amigona, uma pessoa que já foi para a guerra, voltou e vai ajudar no caminho das pedras. Quero virar influencer do câncer jovem. Existe pouca informação para essa faixa etária que está justamente em uma das fases mais intensas da vida, fazendo faculdade, começando no trabalho, no casamento, tendo filhos”. E avisa, comentando sobre seu perfil: “Esse ano esse Instagram promete”.

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