O cigarro ainda é o principal fator de risco para diversos tipos de câncer. Sem o tabagismo, cerca de 30% dos casos de tumores malignos também não existiriam. “Especificamente em câncer de pulmão, o fumo é a causa principal em 80% dos casos”, afirma a oncologista Carolina Kawamura, oncologista clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer (IVOC).
O tabagismo está relacionado a cerca de 50 doenças, como o já citado câncer de pulmão, tumores de cabeça e pescoço, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo do útero e leucemia. Na lista também estão problemas cardiovasculares, do aparelho respiratório, do aparelho digestivo, osteoporose, impotência sexual no homem, menopausa precoce, infertilidade na mulher e complicações na gravidez.
Para lembrar o Dia Mundial Sem Tabaco de 2021, neste 31 de maio, a Organização Mundial da Saúde divulga a campanha “Comprometa-se a parar de fumar durante a Covid-19”. A iniciativa, que terá duração de um ano, pretende auxiliar os fumantes no desafio de largar o tabagismo, apresentando “101 razões para parar de fumar”.
A OMS reconhece a dificuldade que a decisão de parar de fumar pode trazer, principalmente neste cenário de pandemia, que gerou um estresse social e econômico adicional. “Em todo o mundo, cerca de 780 milhões de pessoas dizem querer parar de fumar, mas apenas 30% delas têm acesso aos instrumentos que podem ajudá-las”, reconhece a entidade internacional. Por isso, a Organização promete utilizar tecnologia para fornecer informações atualizadas sobre o tema e recursos para que as tentativas de cessação do tabagismo possam ser bem-sucedidas.
Uma destas ferramentas será Florence, “a primeira profissional de saúde digital da OMS, disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, para ajudar as pessoas a pararem de fumar. Essa ferramenta é oferecida atualmente em inglês e em breve será lançada nos seis idiomas oficiais da organização (árabe, chinês, francês, russo e espanhol) ”, segundo as informações da entidade. Para conhecê-la, basta acessar o link. Também foi disponibilizado um desafio no WhatsApp e no Facebook, para aconselhar sobre como parar de fumar durante este momento difícil.
O Brasil é um dos países foco da campanha da ONU. Mesmo com os avanços da política de controle do tabagismo, ainda apresenta altos índices de fumantes e o impacto das doenças causadas pelo cigarro é alto. A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 mostrou, entre os adultos, uma prevalência de usuários atuais de produtos de tabaco, fumado ou não fumado, de uso diário ou ocasional, de 12,8%, o que corresponde a 20,4 milhões de brasileiros.
Entre as regiões, a prevalência variou de 10,7%, na Região Norte, a 14,7%, na Região Sul. Estima-se, ainda, que mais de 157 mil pessoas morram todos os anos por doenças associadas ao tabagismo.
O impacto do fumo cresceu neste ano de pandemia. Pesquisa da Fiocruz revelou que 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos neste período. No ano passado, uma nota técnica do Instituto Nacional de Câncer (INCA), já alertava: “o tabagismo é fator de risco para a Covid-19. Devido a um possível comprometimento da capacidade pulmonar, o fumante possui mais chances de desenvolver sintomas graves da doença”.
“Os pacientes oncológicos podem ter mais risco de complicações pela Covid-19, com maior necessidade de internação, permanência na UTI e uso ventilação mecânica, principalmente pacientes em tratamento ativo e com a imunidade debilitada”, confirma Carolina Kawamura. “O fundamental, em todos os casos, é não abandonar o tratamento. Mesmo com a necessidade de distanciamento social e maior proteção, os pacientes oncológicos devem manter a rotina de acompanhamento médico e realizar os procedimentos indicados”.
A oncologista reforça a importância de ficar longe do cigarro, principalmente com o diagnóstico de câncer. “Mesmo para as pessoas que já foram diagnosticadas, é fundamental parar de fumar. É preciso oferecer este apoio e até tratamento para os pacientes largarem o vício”, ressalta. “O cigarro interfere na metabolização dos tratamentos oncológicos, inclusive com potencial redução na eficácia dos medicamentos. Para os pacientes que serão submetidos a cirurgia, além de o cigarro prejudicar a função pulmonar, também compromete o processo de cicatrização”, acrescenta a médica.
O Programa Nacional de Controle do Tabagismo do Ministério da Saúde foca na implementação de recursos de “educação, comunicação, treinamento e conscientização do público; e de “medidas de redução de demanda relativas à dependência e ao abandono do tabaco”. O INCA esclarece que, por meio do trabalho em rede, “cria uma capilaridade que contribui na promoção e no fortalecimento de um ambiente favorável à implementação de todas as medidas e diretrizes de controle do tabaco no país, ainda que não estejam diretamente sob a governabilidade do setor de saúde”.
Neste sentido, o compromisso pessoal e coletivo de deixar o tabagismo ganha força, pelo bem da Saúde no país. “Vejo nas ruas pessoas fumando e tirando a máscara. Isso faz com que elas se exponham mais e exponham as outras pessoas também. Acho que, agora, temos vários argumentos a mais para convencer as pessoas a não começar a fumar ou, aqueles que fumam, a deixar o vício”, destaca Carolina Kawamura.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.