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Diagnóstico precoce não é apenas no Outubro Rosa

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O Outubro Rosa chega ao fim, mas a conscientização das mulheres sobre os cuidados e a necessidade de exames anuais a partir dos 40 anos, mesmo quando os sintomas são ausentes, devem permanecer durante todo o ano. “Nós aproveitamos o mês de outubro para fazer a campanha educativa do diagnóstico precoce para encontrar situações onde o tumor está localizado, não tem ainda nenhuma metástase. Mas devemos ter em mente que a mamografia deve ser feita durante todo o ano”, ressalta Marineide Carvalho, oncologista da santa Casa de São Paulo.

A mamografia é o principal exame de rastreamento do câncer de mama, e a detecção precoce permite que o tratamento seja menos agressivo e a sobrevida, maior. É o que indica um levantamento realizado pelo A.C.Camargo Câncer Center que mostrou que nove entre dez pacientes que diagnosticaram o câncer de mama ainda em fase inicial de desenvolvimento da doença estão vivos após cinco anos do fim do tratamento. A pesquisa foi realizada a partir dos prontuários de 3.781 pacientes (3.758 mulheres e 23 homens) diagnosticados e tratados no hospital entre 2000 e 2009.

Os dados mostram que 2.988 pacientes (79%) diagnosticaram a doença ainda em fase inicial (entre os estágios 0 e 2). Nestes casos, os índices de sucesso registrados no estudo (pacientes vivos cinco ou mais anos após o tratamento) foram respectivamente de 99% (estadio 0), 98% (estadio I) e 91% (estadio II).

Entre os 8,5% dos pacientes que descobriram a doença em fase intermediária (estadio III), 72% estão vivos cinco anos após o tratamento. O índice de sucesso foi menor para os 199 pacientes (5% dos casos) que desenvolveram metástase (estadio IV), com 26% dos pacientes vivos após cinco anos.

Neida Piovaccari, 63 anos, é um exemplo de que a descoberta do câncer de mama em estágio inicial pode favorecer o tratamento e a recuperação da mulher. Sua doença foi descoberta em uma mamografia de rotina, realizada pouco tempo antes do Natal. “Apalpando não dava para sentir nada”, recorda. Assim que foi constatado o câncer, ela já ligou para seu ginecologista, que indicou um mastologista. A consulta foi marcada para o dia seguinte. “Ele fez a punção no consultório, enviou para biópsia no laboratório e realmente se confirmou que era um tumor maligno de 2,2 centímetros, que havia a necessidade de ser removido”, conta.

A orientação do seu médico, o oncologista Antonio Carlos Buzaid, foi realizar a remoção cirúrgica e voltar ao consultório no começo do ano para o início do tratamento. A remoção aconteceu dia 05 de dezembro, vieram as festas e no final de janeiro, o início da quimioterapia, seguida de radioterapia.

O câncer foi detectado no início e o tratamento foi bem sucedido. “Não senti nada, tanto na cirurgia como nos tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Não tive nenhuma intercorrência”. Ela conta que o único incômodo foi uma fadiga muito grande durante o período. “Apesar da idade meu corpo respondeu ao tratamento como se eu tivesse 20 e poucos anos. Os meus parâmetros antes de receber a quimioterapia eram todos excelentes, o que colaborou”. Segundo ela, a forma de encarar a doença também foi decisiva para o sucesso no tratamento. “Você precisa realmente ficar com uma cabeça muito boa. Eu chegava, brincava com todo mundo. Me sentia em casa e acho que isso foi muito importante para o meu tratamento”, diz.

Medo do exame?

Infelizmente, a história de Neida não reflete a realidade de todo o país, onde um grande número de mulheres, seja por medo ou falta de informação, não fazem o exame com a frequência indicada e acabam descobrindo a doença em estádios mais avançados. “Nos serviços públicos os casos ainda chegam muito avançados, seja pela dificuldade de acesso ao diagnóstico, ou porque muitas vezes a mulher está tão envolvida com o cuidado da família que se sente menos importante, acaba se descuidando”, lamenta Marineide.

Muitas mulheres também têm medo da mamografia, e para elas Neida dá seu recado. “Quanto antes descobrir, melhor. Eu descobri meu tumor com 2,3 centímetros. Uma amiga que conheci no hospital estava com tumor em uma mama, mas demorou para realizar a cirurgia e iniciar o tratamento. A doença acabou se estendendo para a outra mama, ela teve que retirar as duas mamas e esvaziar o linfonodo. Isso em questão de meses”. Para ela, é preciso conscientização da importância do exame. “O exame tem cobertura pelo convênio e pelo SUS, não tem porque não fazer. Não adianta ter medo”, enfatiza.

Antes dos 40 anos

A designer gráfico Marcela Leandra Pinheiro, de 38 anos, também descobriu o câncer de mama em uma mamografia de rotina. Ela conta que seu ginecologista é também mastologista, e costuma solicitar às suas pacientes a mamografia com 35 anos. “Fiz minha primeira mamografia com 35 anos, pulei um ano e fiz a segunda com 37 anos, quando foi detectado um nódulo de 2,5cm. Não sentia nada”, diz.

Marcela foi diagnosticada com um carcinoma ductal invasivo, submetida à quadrantectomia com esvaziamento axilar preventivo. Hoje faz quimioterapia e deve ainda fazer radioterapia e passar pelo tratamento com tamoxifeno. “Segundo o oncologista e o mastologista o câncer já foi todo retirado”, comemora.

Para ela, apesar da idade de 40 anos preconizada para o início do exame anual, o ideal é que antes disso a mulher esteja sempre em dia com seus cuidados com a saúde. “No meu caso, 40 anos seria muito tarde para dar início à prevenção”. Ela acrescenta que a informação é a principal arma no combate à doença, e por isso iniciativas como o Outubro Rosa são tão importantes. “É preciso mais informação. As mulheres mais novas não tem essa preocupação, pensam que não vai acontecer com elas. No meu caso, só depois que fui diagnosticada é que comecei a entender muito mais sobre o assunto, me aprofundar”, diz.

 Câncer de mama na família

Em caso de história familiar com vários casos de diagnóstico de câncer de mama na família, algumas vezes se recomenda começar os exames de rastreamento dez anos antes da idade em que o parente mais jovem foi diagnosticado. “Por exemplo, numa família com vários casos de câncer de mama, onde a mãe desenvolveu a doença aos 40 anos, o aconselhável é que a filha faça a primeira mamografia aos 30 anos”, explica o cirurgião oncologista, epidemiologista e diretor de Mastologia do A.C.Camargo Cancer Center, José Luiz Barbosa Bevilacqua.

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