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Em entrevista exclusiva, diretor-geral do INCA revela as metas para 2025 e os impactos para os pacientes oncológicos

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“Para 2025, o foco será a plena realização da nossa função assistencial”. A afirmação do Dr. Roberto Gil, diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (INCA), traz a essência das principais metas do órgão do Ministério da Saúde que atua para prevenir e controlar o câncer no Brasil. 

Nessa entrevista para o Instituto Vencer o Câncer, o diretor-geral do INCA detalha os planos do órgão para este ano, trata destes e outros temas importantes para a área oncológica, como a melhoria da navegação dos pacientes pelo sistema de saúde, os avanços em relação às metas da Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2030 e pesquisa clínica.

 

Quais são as principais metas e perspectivas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para 2025?

Roberto Gil — Em primeiro lugar, queremos restabelecer nossa plena capacidade de atendimento, com a reabertura das salas cirúrgicas atualmente fechadas, a ampliação do CTI e a melhoria nos tempos de realização dos exames histopatológicos. Nosso objetivo é maximizar a capacidade do INCA dentro das possibilidades oferecidas pela estrutura física atual. Paralelamente, estamos desenvolvendo o projeto do novo campus, que ampliará essa estrutura no futuro. Para 2025, o foco será a plena realização da nossa função assistencial.

Também planejamos ampliar nossa capacidade de ensino. Este ano, ingressamos no Enare (Exame Nacional de Residência) e já observamos resultados positivos. Nosso objetivo é melhorar significativamente a residência médica e multiprofissional, além de expandir e aprimorar ainda mais nossos cursos de pós-graduação, mantendo o excelente conceito já obtido pela Capes. Não abriremos mão dos programas que oferecemos atualmente.

Outro pilar importante é incentivar a pesquisa, continuando a crescer, publicar mais trabalhos e contribuir com a produção de conhecimento. Além disso, vamos reforçar nosso papel institucional na construção de políticas públicas para o SUS, algo que consideramos essencial e pretendemos seguir exercendo com excelência.

 

 Quais são as perspectivas de avanços e projetos voltados à melhor navegação do paciente pelo sistema de saúde?

Roberto Gil — Primeiramente, temos uma perspectiva interna: melhorar o fluxo dos pacientes dentro do Instituto Nacional de Câncer. Atualmente, o tempo entre a internação e a realização do primeiro tratamento ainda é longo, e buscamos aperfeiçoar essa navegação interna. Embora já tenhamos uma boa organização, queremos aprimorar o processo para pacientes que necessitam de múltiplos atendimentos na instituição, como radioterapia, oncologia clínica ou cirurgia, organizando melhor esse fluxo.

Do ponto de vista externo, nosso objetivo é contribuir para a qualificação do processo de regulação, criando fluxos mais lineares. Um exemplo é a iniciativa das Ofertas de Cuidados Integrados (OCI), que concentra todos os exames diagnósticos em um único local, permitindo a conclusão desses exames em até 30 dias e com regulação automática após o diagnóstico. Também pretendemos melhorar a regulação para que os pacientes sejam atendidos de acordo com o estágio da doença e o grau de prioridade. Esse processo já existe, mas precisa de ajustes, e acreditamos que o avanço da saúde digital contribuirá gradativamente para essa melhoria.

 

O INCA tem atuado na conscientização em relação a vacinação do HPV, como importante estratégia para combater o câncer do colo do útero e atingir a meta preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2030, que 90% das meninas sejam vacinadas contra o HPV até os 15 anos de idade. Como são as estratégias, como estão os resultados e quais os maiores desafios?

Roberto Gil — Do ponto de vista da vacinação, a adoção de uma dose única para pacientes imunocompetentes contra o HPV tem nos levado a um avanço significativo. Estamos próximos da meta de 90%, tendo alcançado 81% até o momento. No entanto, o principal desafio ainda é a comunicação. Precisamos vencer as barreiras impostas por movimentos antivacina que, sem fundamento, criam narrativas como a de que a vacina induziria à sexualidade precoce. Apesar dessas dificuldades, estamos superando os obstáculos e avançando na direção da meta.

Além da vacinação, também temos trabalhado para atingir outras metas importantes, como o aprimoramento do rastreamento. Nesse sentido, estamos introduzindo o teste molecular, que representa um grande avanço por simplificar o processo e melhorar a detecção. Outro ponto crucial é a melhoria no tratamento de doenças detectadas, sejam elas pré-cancerosas ou o próprio câncer. Nosso objetivo é garantir o melhor tratamento possível para essas pacientes.

Em resumo, precisamos focar em duas frentes principais: aperfeiçoar nossa comunicação para engajar mais pessoas na vacinação e fortalecer a organização do rastreamento, tornando-o proativo. Queremos evitar o rastreamento oportunístico e garantir que mulheres que realmente precisam sejam alcançadas no momento certo, sem múltiplos exames fora do prazo. Acreditamos que estamos no caminho certo para atingir essas metas.

  • “Ainda enfrentamos preconceitos injustificáveis em razão de movimentos antivacina, e isso não afeta apenas a vacina contra o HPV. Dentro do Programa Nacional de Imunizações (PNI), observamos uma queda na adesão a outras vacinas igualmente importantes. O desafio que temos hoje é consolidar a meta de 90% de vacinação contra o HPV, quem sabe até superá-la e atingir 95%, além de reforçar a imunização contra a Hepatite B, ambos agentes infecciosos diretamente ligados ao desenvolvimento de cânceres. Portanto, é essencial investir na educação tanto da população quanto dos profissionais de saúde para superar essas resistências indevidas e garantir que essas vacinas desempenhem seu papel preventivo com o maior alcance possível.”

Em entrevista exclusiva, diretor-geral do INCA revela as metas para 2025 e os impactos para os pacientes oncológicos

Dr. Roberto Gil, diretor-geral do INCA

 

Qual é, na sua opinião, a importância da pesquisa clínica em Oncologia?

Roberto Gil — Atualmente, nenhum país pode abrir mão da questão estratégica de investir em inovação, e a pesquisa desempenha um papel fundamental nesse contexto. Pesquisas epidemiológicas, clínicas e até mesmo aquelas voltadas para medicações são essenciais para definir prioridades de utilização e estabelecer as melhores linhas de atuação nos tratamentos oncológicos.

Acredito que o incentivo à pesquisa é indispensável. O Brasil possui essa capacidade, conta com profissionais altamente qualificados e dispõe de um vasto campo de possibilidades estratégicas. É uma missão que precisamos cumprir para avançar no enfrentamento do câncer e na melhoria contínua dos tratamentos disponíveis.

 

Como a pesquisa tem evoluído no Brasil e quais as estratégias para a política nacional com as novas regulamentações?

Roberto Gil — Essas novas regulamentações, aguardadas por tanto tempo, representam um passo importante para organizar a pesquisa no Brasil. Embora sua implementação e efetividade ainda precisem ser avaliadas, é animador perceber esse avanço, especialmente considerando que, por muito tempo, não havia um regramento claro. Isso gerava dificuldades para trazer estudos clínicos ao país, com uma demora significativa para obter autorizações das agências reguladoras.

Devemos saudar essa nova fase, mas é fundamental manter um diálogo constante com os pesquisadores para garantir que essas mudanças sejam realmente benéficas e contribuam para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil. O acompanhamento dessa implementação será essencial para que os avanços propostos se traduzam em benefícios concretos para a ciência e a saúde.

 

Com o objetivo de promover o crescimento das pesquisas pelo país o Instituto Vencer o Câncer (IVOC) desenvolve o projeto Rede Vencer o Câncer de Pesquisa Clínica”, que tem como objetivo implementar centros de pesquisa e qualificar profissionais, especialmente nas regiões em que a pesquisa não está desenvolvida, como Norte, Nordeste e Centro-oeste, onde essas unidades são mais escassas. Que benefícios esse tipo de iniciativa pode trazer para a melhoria dos tratamentos em oncologia no país?  

Roberto Gil — Acredito que qualquer iniciativa que agregue valor e promova sinergia é essencial, especialmente ao incluir regiões como o Norte e o Nordeste, que possuem lacunas significativas na área de pesquisa. Essas regiões podem se beneficiar do aprendizado e da estruturação já existente em outras partes do país para impulsionar o desenvolvimento local.

É importante ressaltar que nada disso pode ser feito de forma isolada. No contexto do SUS, ações como essa precisam estar alinhadas e coordenadas com o Ministério da Saúde e o próprio Instituto Nacional de Câncer. Essa articulação é fundamental para garantir que as pesquisas realizadas sejam direcionadas às necessidades mais relevantes para o SUS e para a população brasileira.

A iniciativa é muito bem-vinda, mas deve ser sustentada por essa colaboração entre instituições, garantindo que o impacto seja efetivo e que as melhorias no acesso à pesquisa e nos tratamentos oncológicos alcancem todo o país.

Logotipo do Instituto Vencer o Câncer

O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.

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