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Imunoterapia: uma boa perspectiva para o câncer

A imunoterapia trata a doença através do sistema imune. Apesar da descrição parecer simples, entender as possibilidades que ela traz implica em conhecer um pouco mais sobre o funcionamento do sistema imune e suas interações com as células cancerosas. Foi exatamente isso que o oncologista Antonio Buzaid, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer, fez na 2ª edição do evento Imunoterapia de A a Z – conceito e atualização de tratamento, para debater o que há de novo nesta que é considerada a estratégia mais promissora para o tratamento de câncer.

O sistema imune tem mecanismos para atacar as ameaças ao organismo. As células cancerosas, que se proliferam sem parar e têm capacidade de se espalhar pelo organismo, tentam enganar e neutralizar esse sistema, para continuar crescendo no corpo. O organismo precisa “mostrar” essas células para o sistema imune, demonstrar que elas não pertencem a ele e precisam ser exterminadas, apresentar especialmente para o linfócito T, um dos principais mecanismos de defesa, para que ele possa atacar as células tumorais. A imunoterapia trabalha com medicamentos que estimulam e possibilitam essa defesa.

Buzaid explica que essa forma de tratamento vem sendo estudada há muitos anos, recordando que por muito tempo se dispunha especialmente de Interleucina 2 (IL-2), uma medicação que atua fortalecendo o sistema imunológico e produzindo substância para defender o organismo. “A cura com Interleucina 2 fica em torno de 5% – uma fração pequena, mas já era um resultado favorável”, lembra. “Tudo mudou na imunoterapia em 1995”.

O médico cita estudos que descobriram que em alguns momentos o sistema imune precisa “esfriar”, fazer uma pausa, para evitar uma doença autoimune (quando o sistema ataca o próprio corpo). “Depois de um tempo com o sistema imune funcionando, aparece uma proteína que o faz parar. Um dos freios é o CTLA-4. Foi criado o anti CTLA-4, um remédio que bloqueia esse ‘freio’, mantendo o sistema funcionando por mais tempo, o que produziu regressão do câncer em ratos”. Nos tratamentos de câncer, o uso do anti CTLA-4 (Ipilimumab) elevou os resultados, que ficavam em cerca de 5% para 20%. “O Ipilimumab é basicamente usado em melanoma”, comenta o oncologista.

Com os avanços, as pesquisas começaram a focar no PDL1 – proteína que faz o linfócito T parar de funcionar e assim suprime o sistema imune. “Os medicamentos que impedem essa parada do sistema imune com o PDL1 são os inibidores de checkpoint, que mudaram a história da doença. Começou com melanoma e hoje é usado em dezenas de doenças”.

Imunoterapia

High-dose: IL-2

– Inibidores de checkpoint

Anti CTLA-4: Ipilimumab

Anti-PD1, antiPDL1: Nivolumab, Pembrolizumab, Atezolizumab, Durvalumab e Avelumab.

 

Com essa evolução, mais um salto nos resultados: de 20% com anti CTLA-4 para 30% a 40% de evolução sem progressão, com pacientes bem por quase cinco anos, com os inibidores de checkpoint. Buzaid avisa que já há dados de longo prazo com estudos de Pembrolizumab. “Um dos primeiros pacientes que tratei tem 89 anos. Ele teve artrite e complicação do pulmão, mas curou melanoma. Os efeitos colaterais nós tratamos”.

“Dos tratamentos usados na Oncologia, a imunoterapia é o que tem maior potencial de cura entre quase todas as modalidades hoje. Ela será cada vez mais usada em um número cada vez maior de cânceres, isoladamente ou em combinação com outras modalidades de terapia como quimioterapia, radioterapia e com terapia-alvo. Ela tem papel importante no tratamento de vários cânceres. Em alguns deles o ganho é muito grande, como por exemplo melanoma, câncer de pulmão, de rim, de bexiga, de pele – tanto de Merkel quanto de células escamosas”, conclui o médico.

 

A importância do microbioma intestinal

O microbioma, explica o médico, é um conglomerado de organismos em uma área do corpo – no caso do microbioma intestinal, dos que vivem no intestino. “Temos muitas bactérias no organismo; boa parte dessas bactérias são boas e sem elas o sistema imune não funcionaria direito”, informa Buzaid. “Temos evidências de que o microbioma intestinal de boa qualidade possibilita que o sistema imune funcione melhor e sabemos da relevância das bactérias do intestino para a eficácia dos tratamentos de câncer”.

E o que ajuda a melhorar o microbioma intestinal?

O médico esclarece de forma bem simples: “Se nasce em árvore, pode comer”, avisando que está livre o consumo de frutas e saladas. E acrescenta outras ações importantes:

Baixa ingesta de carne vermelha

Baixa ingesta de carboidratos livres – de preferência quase nula.

“A batata é carboidrato complexo, não sobe o açúcar do corpo na hora. O carboidrato livre estraga o microbioma intestinal. Entre eles, o açúcar refinado é o maior veneno”, alerta. Ele também chama atenção para o uso de alguns medicamentos, como antibióticos, que mexem com a flora intestinal e atrapalham tratamentos como imunoterapia, e também omeprazol e pantoprazol, que alteram o PH, possibilitando crescimento de bactérias que não são boas para o estômago. “Existem testes que são feitos para observar as bactérias e tentar melhorar para um perfil que mais se correlaciona com a imunoterapia”.

A utilização de probióticos – que usa a bactéria viva que vai direto mexer no microbioma intestinal – foi péssima para os tratamentos de imunoterapia, segundo Buzaid. Já os prebióticos, que podem ser obtidos com a boa alimentação, ajudam a aumentar as bactérias boas. “Têm avançado os estudos com transplante de fezes através de cápsulas – sabemos que o chineses tinham o conhecimento há mais de 2 mil anos de que essa estratégia funciona, porque mexe com o microbioma. Mas se a pessoa se alimentar bem, como citei, o microbioma fica bom para o tratamento, saudável”.

Os estudos sobre imunoterapia têm demonstrando grandes evoluções e Buzaid comenta que as perspectivas são muito boas. “A imunoterapia não vai funcionar em todos os cânceres e para todas as pessoas, mas ela traz boas chances para a doença”.

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