Dr. Buzaid destaca um estudo que irá impactar tratamento do câncer de mama
Imagem IVOC.

Oncologia em transformação: as boas notícias de 2025 e o que esperar para 2026

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A oncologia conquistou em 2025 avanços que garantem mais opções na prática clínica. A expansão da imunoterapia — em indicações mais amplas e em fases mais precoces do tratamento —, o amadurecimento das terapias-alvo e os resultados consistentes das terapias celulares desenham um cenário de transformação real para diferentes tipos de câncer.

Nesta entrevista, o oncologista Antonio Buzaid, cofundador do Instituto Vencer o Câncer, faz um balanço dos principais marcos de 2025 e detalha o que começa a se consolidar para 2026. 

Do avanço científico às estratégias do instituto na pesquisa clínica e no acesso a tratamentos inovadores, ele aponta o que já impacta a vida dos pacientes — e o que pode redefinir os próximos anos da oncologia.

>> Ao longo de 2025, acompanhamos muitos avanços na oncologia. Entre tantas novidades, quais o senhor considera que foram, de fato, os grandes marcos do ano — aqueles que já impactam a prática clínica e começam a mudar a vida dos pacientes?

Antonio Buzaid — Na oncologia como um todo, uma das conquistas mais importantes em 2025 foi a expansão da imunoterapia. Diferentemente da quimioterapia, que ataca diretamente as células cancerosas, a imunoterapia atua por meio do sistema imune do próprio paciente, tornando o tumor mais visível para que o organismo consiga combatê-lo.

Essa estratégia, que já vinha crescendo nos últimos anos, ampliou ainda mais seu escopo. Vimos a imunoterapia ser incorporada a novas indicações e também utilizada em fases mais precoces do tratamento. Um exemplo recente foi a aprovação da combinação de quimioterapia com imunoterapia para câncer de estômago em estágios mais localizados — algo que não estava disponível até pouco tempo atrás.

Todos os cânceres têm um ponto em comum: eles conseguem burlar o sistema imune e escapar do seu ataque, um mecanismo que chamamos de evasão imune. Quando a imunoterapia funciona, ela tem, a meu ver, o maior potencial de cura entre os tratamentos oncológicos atuais. Ainda não compreendemos completamente todos os mecanismos de evasão utilizados pelas células tumorais, e isso explica por que há cânceres mais resistentes à imunoterapia, como o de pâncreas, enquanto outros respondem melhor, como melanoma e câncer de pulmão em fumantes.

>> O senhor estuda imunoterapia há décadas, muito antes de ela ganhar o protagonismo atual. O que sempre chamou sua atenção nessa abordagem?

Antonio Buzaid — Estudo imunoterapia desde 1985, quando era estudante de oncologia e hematologia na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Já existiam protocolos naquela época e, desde então, eu via esse caminho como uma das grandes possibilidades da oncologia.

Naquele momento, nosso conhecimento sobre o sistema imune era muito mais rudimentar, assim como a compreensão dos mecanismos de evasão imune utilizados pelas células cancerosas. A pesquisa ainda era limitada, mas mesmo assim optei por persistir atuando com pesquisas na área, porque sempre entendi que ali havia um potencial enorme. Hoje, com o avanço do conhecimento e da tecnologia, isso se confirma: a imunoterapia se consolida como uma das áreas mais importantes da oncologia.

>> Dentro da própria imunoterapia, uma frente que vem ganhando destaque é a terapia celular. O que muda com esse tipo de abordagem e por que ela é considerada tão promissora?

Antonio Buzaid — A terapia celular é uma área particularmente importante dentro da imunoterapia. Trata-se de uma estratégia em que utilizamos as próprias células do sistema imune do paciente, que originalmente não conseguem eliminar o câncer, e as modificamos geneticamente para torná-las mais eficazes. Essas células são expandidas em laboratório, em grandes quantidades, e depois reinfundidas no paciente para atacar o tumor.

Essa abordagem já transformou o tratamento de alguns cânceres hematológicos, como leucemia linfoide, linfomas e mieloma múltiplo, por meio da terapia conhecida como CAR-T. Esses tratamentos vêm se tornando cada vez mais sofisticados e potentes. 

Agora, começamos a avançar também para os tumores sólidos, com outras formas de modificação das células T do paciente. Um exemplo recente foi apresentado no congresso europeu da ESMO, em 2025, com resultados muito expressivos em um melanoma ocular — um tipo de melanoma raro e de difícil tratamento, que frequentemente faz metástase para o fígado. Nesse estudo, linfócitos T do próprio paciente foram modificados, expandidos e reinfundidos, com casos de pacientes que permanecem bem há quatro anos, inclusive com relatos de cura.

Esse tipo de terapia celular tende a se expandir para outros tipos de câncer. Não tenho dúvida de que essa forma de imunoterapia vai revolucionar o tratamento de vários tumores nos próximos anos.

>>> Essa tecnologia já está disponível no Brasil ou ainda depende de produção fora do país?

Antonio Buzaid — Atualmente, a terapia CAR-T disponível comercialmente ainda é feita fora do Brasil. O processo envolve a coleta das células do paciente, o envio para os Estados Unidos, onde elas são modificadas e expandidas, e depois o retorno para aplicação no paciente.

Ao mesmo tempo, já existem grupos brasileiros trabalhando intensamente nessa área. A Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, por exemplo, lidera pesquisas com CAR-T para leucemias e tem como objetivo avançar para a incorporação dessa tecnologia no Sistema Único de Saúde (SUS). Isso é fundamental para reduzir o custo, que hoje é extremamente elevado — em torno de 400 mil dólares —, e ampliar o acesso.

É um tratamento único: ele é feito uma vez, e o resultado pode ser a cura ou não. Em alguns tipos específicos de leucemia refratária, a CAR-T é capaz de curar cerca de metade dos pacientes, mesmo quando todas as outras opções terapêuticas já falharam. 

>> Olhando para 2026, quais avanços o senhor destacaria como as perspectivas mais promissoras na oncologia e o que os pacientes podem esperar na prática?

Antonio Buzaid — Além da própria imunoterapia, uma área que continua avançando de forma consistente é a das terapias-alvo. Essas terapias utilizam pequenas moléculas que atuam diretamente proteínas codificadas por genes alterados (em geral mutados) nas células tumorais. Todos os cânceres apresentam mutações, e algumas delas funcionam como verdadeiros motores, mantendo a célula cancerosa agressiva e em rápida proliferação. Quando conseguimos bloquear esses motores, a célula tumoral morre.

É claro que o câncer desenvolve mecanismos de defesa, e por isso os resultados variam conforme o tipo de tumor. Há exemplos muito bem-sucedidos, como a leucemia mieloide crônica, em que a terapia-alvo permite hoje erradicar a doença. Em tumores sólidos — como pulmão, mama e intestino —, a terapia-alvo geralmente não elimina todas as células, mas traz benefícios importantes, com boa tolerabilidade e significativa melhora da qualidade de vida.

Esse campo continua crescendo à medida que identificamos melhor quais são os motores mais relevantes de cada tumor. Em alguns casos, a célula cancerosa tem mais de um motor ativo, o que exige o bloqueio de múltiplas vias. Esse refinamento das terapias-alvo é uma das frentes que deve seguir avançando em 2026.

>>> Além da imunoterapia e das terapias-alvo, há outras frentes que começam a mostrar avanços relevantes e que podem trazer novidades importantes já em 2026?

Antonio Buzaid — Um exemplo importante vem da hormonioterapia, especialmente no câncer de mama receptor hormonal positivo. Trata-se de uma área que ficou praticamente duas décadas sem mudanças significativas. Recentemente, acompanhei a apresentação no congresso de San Antonio, nos Estados Unidos de um novo medicamento, ainda experimental, chamado giredestranto, que foi o primeiro a demonstrar ganho em relação à hormonioterapia padrão utilizado atualmente. 

Esse é um marco relevante porque, em 20 anos, não havíamos visto avanços desse tipo na hormonioterapia para câncer de mama. A expectativa é que esse medicamento seja aprovado em um futuro próximo nos Estados Unidos, e os laboratórios devem submeter o pedido de avaliação à Anvisa em futuro próximo.

Esse avanço tem potencial para aumentar as chances de cura de mulheres que recebem hormonioterapia, mantendo uma tolerabilidade semelhante à dos tratamentos atuais.

>>> Por que o Instituto Vencer o Câncer aposta na criação de centros de pesquisa e como o senhor avalia a experiência desses centros em 2025 e as prioridades para o próximo ano?

Antonio Buzaid —A criação de centros de pesquisa é uma das prioridades do instituto por razões muito objetivas. Em primeiro lugar, levamos esses centros para áreas muitas vezes mais remotas. Em segundo, quando oferecemos a um paciente a possibilidade de participar de um protocolo de pesquisa, estamos falando, na maioria das vezes, de estudos que comparam um novo tratamento com o padrão-ouro — padrão-ouro que, em geral, é o adotado nos Estados Unidos, na Europa ou na medicina privada brasileira, e ao qual o paciente do SUS infelizmente não tem acesso.

Esses estudos oferecem ao paciente a chance de receber um tratamento potencialmente superior. Mesmo quando o paciente é alocado no braço controle, ele recebe, no mínimo, o padrão-ouro. É uma oportunidade real para quem não tem seguro privado e também para pacientes da rede privada que desejam tentar uma nova opção terapêutica. São estudos randomizados: o paciente é alocado aleatoriamente em um dos braços, com cerca de 50% de chance de receber o novo tratamento. 

Ao longo de 2025, aprendemos muito com a implementação desses centros. Alguns tiveram desempenho excelente e avançaram rapidamente; outros enfrentaram mais desafios. O time do instituto tem trabalhado de forma intensa para melhorar a qualidade da pesquisa clínica nesses locais.

Para 2026, o foco não é abrir novos centros, mas aprimorar a qualidade dos que já existem. A ideia é implantar, acompanhar de perto, garantir consistência e só então pensar em expandir.

>>> Além do trabalho com os centros de pesquisa, 2025 também foi marcado, entre outros aspectos, pelo sucesso do jantar beneficente do Instituto Vencer o Câncer. Como essas iniciativas se conectam e quais são as prioridades para 2026?

Antonio Buzaid — O jantar foi um sucesso. Já havia sido muito positivo no ano anterior, e em 2025 foi coroado pela presença de muitas pessoas que foram tocadas pelo câncer, seja diretamente, seja por meio de familiares. Isso mostrou um alto grau de engajamento e disposição em ajudar.

A sustentabilidade do instituto é fundamental. A principal finalidade do jantar é a arrecadação de recursos, já que o instituto não tem receita própria e depende de entrada de capital para viabilizar nossos projetos. O interesse e a participação das pessoas reforçam que a causa importa. Para mim, isso foi extremamente gratificante.

Outra frente essencial é continuar atuando junto às políticas públicas para ampliar o acesso da população a medicamentos importantes na oncologia. Hoje, por exemplo, não existe imunoterapia disponível no SUS. Em doenças como melanoma avançado, a imunoterapia pode curar cerca de 40% dos pacientes; no SUS, onde há apenas quimioterapia, a taxa de cura é zero. Essa diferença é inaceitável, e precisamos avançar de forma estruturada para mudar esse cenário.


Texto: Vivi Griffon

Publicação: 16/12/2025 | Atualização: 16/12/2025

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