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Riscos não tão evidentes do tabagismo

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Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29 de agosto, é momento de alertar sobre os riscos dos fumantes passivos e do uso dos aditivos no processamento do tabaco.

“Parar de fumar faz bem a todos. Ao fumante e a todos que estão à sua volta”. A afirmação do oncologista clínico e pesquisador Dr. Marcelo Corassa traz a essência do impacto da par de fumar não apenas para o fumante, mas para a sociedade e, em especial, os chamados fumantes passivos

“Não existe nenhum dado consolidado que ligue diretamente o câncer de pulmão ao tabagismo passivo, ou seja, pessoas que convivem com pessoas que fumam. A despeito disso, as evidências correntes demonstram que, em relação à população geral, os tabagistas passivos têm um risco cerca de 20 a 30% maior de desenvolver esta doença. Estima-se que entre sete mil e oito mil pessoas morrem nos Estados Unidos todos os anos de câncer de pulmão sem ter fumado previamente, contudo, com histórico de tabagismo passivo”, complementa o oncologista, que é líder da Unidade de Câncer de Pulmão e Neoplasias do Tórax – Oncologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer.

A chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Maria José Domingues da Silva Giongo, lembra que de acordo com a Organização Mundial da Saúde (2021), a epidemia do tabaco é uma das maiores ameaças à saúde pública e mata mais de oito milhões de pessoas por ano em todo o mundo. “Mais de sete milhões dessas mortes são resultado do uso direto do tabaco, enquanto cerca de 1,3 milhão são resultado da exposição de não fumantes ao fumo passivo”.

O risco de desenvolvimento de tumores em fumantes passivos é um dos importantes alerta neste 29 de agosto, Dia Nacional de Combate ao Fumo. 

 

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Como anda seu conhecimento sobre o tabagismo e o impacto que ele tem como fator de risco para vários tipos de câncer? Responda às perguntas desse Quiz e descubra! 

 

Fumaça que sai da ponta do cigarro tem até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a inalada

Maria Giongo esclarece que o não fumante inala as mesmas substâncias tóxicas e cancerígenas que o fumante quando está junto em ambiente fechado. “A fumaça do tabaco contém mais de sete mil componentes químicos e, pelo menos, 250 desses produtos químicos são prejudiciais à saúde humana”, alerta. 

“A fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde homogeneamente no ambiente contém em média três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala, fazendo com que o tabagismo passivo seja um importante fator de risco para câncer de pulmão”.

Tabagismo passivo

Tabagismo passivo, explica ela, é a inalação da fumaça de derivados do tabaco, tais como cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo, narguilé e outros produtores de fumaça, por indivíduos não fumantes, que convivem com fumantes em diferentes ambientes respirando as mesmas substâncias tóxicas que o fumante inala. “Quanto maior a exposição à fumaça, maior é o risco de desenvolver câncer devido à inalação de substâncias cancerígenas presentes no produto”. 

Problema vai muito além do câncer de pulmão

Dr. Marcelo Corassa explica que o tabagismo de um indivíduo isolado tem múltiplas implicações no contexto de uma família. “O primeiro fator são doenças respiratórias em geral. Além do câncer de pulmão também existe o risco de doenças respiratórias associadas, como asma, bronquite e reações alérgicas. Em segundo lugar, existe o impacto familiar que as doenças relacionadas ao tabaco causam no fumante”, afirma. “Várias doenças além do câncer de pulmão estão relacionadas ao tabagismo, como AVC, infarto, doenças arteriais, enfisema pulmonar”. 

O oncologista lembra que ao ficar doente, o fumante demanda atenção e suporte de toda a família, além de acompanhamento médico. “Por fim, existe o impacto financeiro do tabagismo. Um estudo do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indica que fumantes gastam até 10% da sua renda mensal com o cigarro, além do impacto financeiro de cerca de 125 bilhões de reais gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar doenças cigarro-relacionadas”.

Portanto, o alerta é claro: tabagismo passivo também é um problema grave a ser combatido, pelo impacto no paciente, na família e nas pessoas que convivem com o fumante. “Não há como estimar de forma específica qual é o risco de câncer de pulmão para fumantes passivos, com a estimativa de até 30% de aumento de risco. Essa projeção, no entanto, pode estar subestimada, e o risco pode ser ainda maior, considerando a dificuldade de analisar este dado”.

Maria Giongo reforça que os “estudos indicam que não há nível seguro de exposição ao tabagismo passivo. A única maneira de proteger adequadamente fumantes e não fumantes é eliminar completamente o tabagismo em ambientes fechados”.

Riscos dos aditivos: sabores atraem crianças e jovens para o tabagismo

O tema da campanha do INCA deste ano é “Sabores e aromas em produtos derivados de tabaco: uma estratégia para tornar a população dependente de nicotina”. O objetivo é alertar a sociedade sobre os riscos causados pelo uso de aditivos no processamento do tabaco e o impacto que eles provocam na promoção da iniciação e na captação de crianças e adolescentes à dependência à nicotina. 

O tema foi escolhido diante do cenário de aumento do consumo destes produtos entre crianças e adolescentes. Esta entre experimentação cedo é mais um fator agravante na manutenção da dependência e causa ainda mais prejuízos ao organismo. Nota técnica do INCA divulgada para a data aponta aspectos importantes em relação ao assunto:

  • Estudos destacam que, entre 2012 e 2021, o registro da indústria de produtos de tabaco aromatizado para venda legal no Brasil mais do que triplicou.
  • Existem aproximadamente 16 mil sabores disponíveis no mercado, muitos deles atraentes para as crianças (WHO, 2021).
  • Cerca de 70% dos jovens com idade entre 12 e 17 anos, usuários de dispositivos eletrônicos para fumar dizem que consomem esses produtos por terem sabores dos quais gostam (WHO, 2021).
  • Estudos feitos nos Estados também demostram como os sabores desempenham importante papel no consumo de cigarros eletrônicos, inclusive por crianças e adolescentes.
  • De 2014 a 2020, a proporção de usuários de cigarros eletrônicos com sabor, entre os usuários atuais do produto, aumentou de 65,1% para 84,7%.
  • Pesquisa Internacional de Controle do Tabaco (ITC) Brasil, que investigou 1.216 fumantes adultos, entre 2016 e 2017, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, mostraram que :

    7,8% dos entrevistados relataram fumar mentol.
    12,5% dos fumantes acreditavam erroneamente que cigarros mentolados são menos prejudiciais do que os cigarros comuns.
    33,4% acreditavam que os mentolados são mais suaves na garganta e no peito

    Estes ‘Dados da Onda 3’ desta pesquisa revelam que cigarros mentolados são, frequentemente, falsamente propagandeados como produtos mais saudáveis.

Viviane Pereira

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