Setembro é o mês escolhido para a conscientização do câncer ginecológico. O objetivo é alertar a população feminina para a importância do diagnóstico precoce, informar quais são os fatores de risco e sintomas, além de incentivar os cuidados constantes com a saúde.
Entre os tumores que afetam o sistema genital feminino, o câncer do colo de útero e câncer de ovário são os mais prevalentes, mas os cânceres ginecológicos compreendem ainda os tumores de endométrio, vagina e vulva.
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“Existem maneiras simples e eficientes para a prevenção e diagnóstico precoce do câncer ginecológico — ir ao ginecologista anualmente, fazer regularmente o papanicolaou e informar-se sobre a vacina do HPV”, alerta a oncologista Angélica Nogueira, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG). “Também é importante comentar com seu médico sobre casos de câncer na sua família. São medidas simples que podem salvar sua vida”, acrescenta.
Alguns cânceres ginecológicos podem apresentar sintomas logo no início da doença. Entre os sinais que devem ser observados estão dor pélvica persistente, não restrita ao período pré-menstrual; inchaço abdominal e flatulência; dor lombar persistente; sangramento vaginal anormal; febre persistente; dores de estômago ou alterações intestinais; perda de peso acentuada; anormalidades na vulva ou vagina; e fadiga.
Vale ressaltar que a presença de um ou mais sintomas não indica a presença da doença, mas precisa ser investigada. Quanto mais atenta a mulher estiver em relação a qualquer sintoma persistente, maior a chance do diagnóstico precoce e, consequentemente, maiores as chances de sucesso do tratamento.
Câncer de colo do útero
No Brasil, o câncer do colo do útero segue sendo a 3a causa de morte por neoplasias na população feminina, com significativas variações regionais. Em áreas mais carentes da região Norte, a doença ainda é a primeira causa de morte por câncer em mulheres. “Segundo dados do Ministério da Saúde, a incidência aproximada é de cerca de 15 mil casos por ano no país. Assim como a incidência, também é díspare o acesso ao tratamento e a disponibilidade de melhores tecnologias caminha na contramão dos locais de maior incidência da doença”, afirma Angélica.
O principal fator de risco para o desenvolvimento de lesões precursoras do câncer do colo do útero e da doença em si é a infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV), especialmente os HPVs 16 e 18. Apesar de frequente, a infecção não causa doença na maioria das vezes. Entretanto, em alguns casos, podem ocorrer alterações celulares que evoluem para o câncer. A boa notícia é que essas alterações podem facilmente ser descobertas no exame preventivo (Papanicolaou) e são curáveis em grande parte dos casos.
Prevenção e rastreamento
A vacina é a principal forma de prevenção, e também pode ajudar prevenir diversos outros tipos de câncer atribuídos à infecção por HPV como tumores de vulva e vagina.
No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde é vacinar meninas de 9 a 13 anos, idade em que a imunização é altamente eficaz, pois esse grupo ainda não foi exposto ao HPV. Além delas, também podem receber gratuitamente o imunobiológico todas as mulheres que tenham HIV e/ou idade até 26 anos. A vacinação acontece durante todo o ano, em todas as Unidades Básicas de Saúde e, dependendo do município, também em escolas públicas e privadas.
Ao lado da vacinação, o rastreamento para identificar lesões precursoras segue como uma estratégia importante para o controle da doença. Pelo menos dois terços das mortes por câncer do colo do útero ocorrem em mulheres que não tinham sido rastreadas regularmente.
Câncer de ovário
Ao contrário do câncer do colo do útero, o câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura. Assim como em outros tipos de câncer, a descoberta na fase inicial da doença contribui para o sucesso do tratamento. No entanto, cerca de 75% dos tumores apresentam-se em estágio avançado no momento do diagnóstico. Segundo as estimativas do INCA, são esperados para 2016 aproximadamente 6.150 casos da doença.
Entre os fatores de risco que devem ser considerados estão idade superior a 40 anos, histórico familiar, não ter tido filhos ou ter sido mãe após os 30 anos, além do uso contínuo de anticoncepcionais e reposição hormonal.
“Raramente o câncer de ovário causará sintomas em seu estágio inicial, por isso a visita anual ao ginecologista é imprescindível. Vale ficar atenta a sinais de inchaço, dificuldade para comer ou rápida sensação de plenitude, distúrbios urinários, fadiga, dor nas costas, dor durante o sexo, prisão de ventre e alterações do ciclo menstrual”, explica Fernando Maluf, diretor do Serviço de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM) e oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Câncer de endométrio
As neoplasias de endométrio correspondem a cerca de 3,6% de todos os cânceres femininos, sendo que durante a vida as mulheres têm um risco de 2,6% de desenvolverem a doença.
O principal fator de risco para o câncer de endométrio é a exposição a longo prazo ao estrogênio, produzido pelo próprio organismo ou recebido em forma de terapia hormonal. Outros fatores de risco incluem menstruação precoce, menopausa tardia, nunca ter engravidado, idade avançada, terapia hormonal para câncer de mama e histórico familiar de câncer na região do útero.Mulheres obesas também são mais propensas a desenvolver carcinoma endometrial, possivelmente por apresentarem níveis elevados de estrogênio endógeno.
Cânceres de vagina e de vulva
Tumores raros, os cânceres de vagina e de vulva são responsáveis por menos de 7% dos tumores ginecológicos. O controle desses tumores é mais fácil quando a doença é localizada, ou seja, não se disseminou para outras partes do corpo. A maioria dos tumores na região da vagina se originam em outros sítios e o acometimento é por disseminação de doença (tumores secundários), mas em alguns casos o tumor pode se formar na própria vagina (tumor primário).
O desenvolvimento da doença geralmente é lento, podendo levar vários anos entre seu início e a manifestação clínica. Ainda não se sabem todas as causas do câncer de vagina, mas novamente a infecção por HPV aparece como um importante fator de risco. Outros fatores incluem história de lesões pré-cancerígenas como neoplasia intraepitelial vaginal; antecedente de câncer de colo do útero; mulheres cujas mães fizeram uso do dietilestilbestrol para prevenção de aborto durante a gestação; múltiplos parceiros sexuais; início da atividade sexual em idade muito precoce; mulheres imunossuprimidas; tabagistas e mulheres acima de 60 anos.
Os sintomas da doença são inespecíficos, sendo geralmente assintomática em seus estágios iniciais. Entre os possíveis sintomas estão sangramento após relação sexual; sangramento não relacionado à menstruação; dor pélvica ou na vagina; dor ao urinar;e constipação.
Já o câncer de vulva é uma neoplasia bastante incomum. Ocorre predominantemente em mulheres de 65 a 70 anos, e geralmente se apresenta como uma úlcera ou placa. Habitualmente, se desenvolve de uma forma lenta durante vários anos.
Os fatores de risco ainda são desconhecidos, mas novamente o HPV se apresenta como um fator de risco. Outros fatores de risco identificados incluem mulheres imunossuprimidas; com história prévia de lesões vulvares pré-cancerígenas ou lesões de pele envolvendo a vulva; pacientes que tiveram câncer cervical; tabagismo e idade avançada.
Infelizmente, nos estágios iniciais os sintomas não são muito marcantes, mas vale prestar atenção a coceira ou sensação de queimação na vulva; sangramento não relacionado a menstruação; alterações na cor da pele dos grandes lábios; alterações na superfície da pele da vulva e nódulos. Outros sintomas que podem ocorrer são dor pélvica, dor ao urinar ou desconforto durante a relação sexual.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.