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Experiências compartilhadas: praticidade e aceitação para encarar a doença com leveza

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Fabiola Lupo, 49 anos, teve câncer de mama aos 37 anos e revela que ao longo desses 12 anos busca vencer um dia por vez e que o caminho para não ficar no pêndulo entre revolta e depressão foi aceitar sua condição, aceitar que estava doente. “Quando a situação está posta, fazer o quê?”, questiona, reforçando que seu pensamento diante dos desafios vivenciados com a doença foi sempre: “já que estou aqui, quais são os próximos passos?”.

Em 2012, ela fazia exames de rotina quando descobriu que tinha câncer de mama. “Fiz mamotomia, que é um exame delicado para quem tem câncer de mama: enfiam uma agulha grande até o nódulo, tiram material e enviam para biópsia. Quando fui abrir o resultado do exame, era sexta-feira, 20 de julho, lembro que estava escrito: carcinoma HER 2 positivo estágio 3”, recorda. “Todo mundo me pergunta: ‘seu mundo caiu?’. Muito pelo contrário; eu estava curiosa. Sempre fui prática com as coisas da minha vida. Minha mãe perguntou: ‘Está com câncer, como assim?’. Começou o drama familiar, os amigos falando que eu não tinha como estar doente. Eu sempre fui atleta e estava treinando para fazer triatlo. Precisava ficar consolando os amigos”.

A irmã, que é assistente social e tinha uma amiga que trabalhava no A. C. Camargo, sugeriu que ela ligasse no hospital e falasse com um oncologista. “Foi coisa de Deus. Liguei e falei com a diretora da mastologia”. Na consulta, Fabiola tinha duas perguntas para a médica: se iria perder o cabelo e se iria morrer. “Minha mãe estava transtornada, eu consciente de que estava doente. Desse dia até fazer quimioterapia foi uma enxurrada de notícias ruins, de que meu câncer era mais grave do que pensavam e precisaria marcar cirurgia com urgência”.

Como o tumor estava se espalhando, foi preciso fazer uma margem maior – mas não necessitou de mastectomia. Quando ela soube que iria fazer quimioterapia, chorou. “Em dez anos eu chorei duas vezes, a primeira foi essa, pelo apego com o cabelo, que sempre foi comprido. Chorei 10 minutos e decide cortar o cabelo. Sempre fiz isso na vida: quando tenho medo, dele sai meu fortalecimento”. Sentiu-se aliviada quando se viu careca, decidiu não usar peruca ou lenço – pegava seu chapéu e ia para a quimioterapia. 

Ela acredita que por ter grande espiritualidade havia muitos anos, estava fortalecida e a aceitação da sua doença foi muito clara. “O câncer foi como se estivesse tirando todas as coisas ruins do meu coração, mágoas, ressentimento. Como se dissesse: isso não te pertence mais, você tem que ressignificar esses momentos na vida”.

A segunda vez em que chorou foi quando teve choque anafilático durante a sessão de quimioterapia – quando mudou da quimioterapia vermelha, da qual tinha feito quatro sessões, para a branca. “Nesse choque tive parada respiratória e quase perdi os movimentos das pernas. Nesse tratamento de dez anos eu quase morri três vezes”, revela. 

“Nesse dia tive com minha mãe a conversa mais dura que precisei ter a vida inteira. Meu corpo não estava mais aguentando a toxicidade da quimioterapia. Eu falei para ela: ‘você tem que entender que o meu corpo não está mais aceitando a quimioterapia, está desfalecido, mas minha cabeça está boa e sei que você está aqui, quero que saiba do meu amor e que não estou desistindo de você e tampouco de qualquer outra pessoa que esteja na minha vida hoje’. Naquele momento chorei bastante, pensei que meu corpo estava sucumbindo e não sabia se sairia daquela situação”.

Fabiola teve ainda uma inflamação no coração e em 2018, na resolução do processo remissivo, insuficiência respiratória, ficando com 80% do pulmão comprometido. “As pessoas precisam entender que o paciente oncológico passa pelo processo de remissão só que será paciente oncológico pelo resto da vida. Terá sequelas; eu tenho na coluna, sequela neuropática superior. O maior impacto é a perda de massa óssea, estou quase com osteoporose aos 49 anos, mesmo fazendo atividade física. O médico diz que eu poderia estar pior se não fizesse”.

O difícil diálogo com a mãe passou a fazer parte das palestras que a paciente preparou e dividiu para incentivar outros pacientes. Também atuou como voluntária para pessoas com câncer no próprio hospital. Das lições aprendidas, fala que vive literalmente o dia de hoje, que é o bem mais precioso que temos. Sua mensagem para outras pacientes: “Não desista de  você, poque a vida é uma coisa preciosa, a oportunidade de estar vivo, de se melhorar como ser humano é o que vamos levar dessa vida. Faça do seu dia o melhor e entenda que a existência na terra é nossa riqueza”.

Viviane Pereira

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