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“Resolvi que ia ser agente da minha história”

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Paciente de câncer de colo de útero relata como doença a fez refletir sobre mudanças para “rever rotas e resgatar sua essência”

“Essa doença pegou a pessoa errada”. A frase, que ela já tinha escutado de uma pessoa que passou por situação semelhante à sua, foi uma das primeiras coisas que ocorreu à Dani Teixeira, mentora e uma das fundadoras da MTG e do Portal 5D, assim que soube do diagnóstico de câncer de colo de útero, em 15 de março deste ano. Foi também o que me chamou a atenção quando ela contou na reunião mensal dos líderes de grupos, do qual participo, sobre o diagnóstico e do seu plano para enfrentar a doença, fazendo tudo o que fosse possível para não deixar espaço para a tristeza ou a vitimização se instalarem.

A Dani falou de peito aberto para o pequeno grupo, agradeceu às pessoas que avisaram que enviariam orações e seguiu a reunião com a mesma força e garra de sempre – como decidiu seguir a vida. Fez o mesmo no grupo com centenas de alunos do seu portal, com seus muitos mentorados e com as cerca de 100 mil pessoas que a seguem em suas redes sociais.

Acostumada a acompanhar e saber a jornada de vários pacientes oncológicos ao longo de anos, também achei interessante a rapidez com que ela absorveu o impacto e buscou tirar o melhor da situação: não à toa apenas três meses após o diagnóstico ela comemora o resultado do tratamento e conta as muitas mudanças que promoveu após o que ela chama de uma grande oportunidade que a vida lhe ofereceu para testar e ter certeza de que realmente está fortalecida e tudo o que realiza cotidianamente para proteger sua autoconfiança está funcionando, e ainda para rever rotas e resgatar sua essência.

E é também do seu jeito, sempre muito sincero compartilhando o bom e ruim da vida com as pessoas que a acompanham, que ela fala do preconceito que envolve esse tipo de câncer e leva mulheres a serem culpabilizadas e a sentirem a necessidade de se esconder, porque uma das principais causas do câncer de colo de útero é a presença de alguns tipos do vírus HPV, que é sexualmente transmissível. Conta das muitas mensagens que recebeu nas redes sociais de mulheres revelando suas angústias, medos e vergonha.

Com sua forma direta e pragmática de lidar com os desafios, dá o seu recado em relação a esse aspecto também: “Estar com HPV não é motivo de vergonha; mostra que você é uma pessoa como outra qualquer. Para pegar o vírus basta ter relação sem camisinha com uma pessoa e isso é normal, principalmente com o marido. Se você teve filho, já teve relação sexual sem camisinha. As pessoas ficam escondendo essas coisas, enfiam para debaixo do tapete e ficam se autopunindo. Temos que cortar o chicote, focar na solução e seguir em frente”, opina. “Quando falamos sobre isso, pessoas que não conseguem falar se sentem ajudadas e passam a enxergar a vida sob outra ótica”.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), estudos mundiais comprovam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV ao longo da vida – e a estimativa é que o índice de homens seja ainda maior. Mas a presença do vírus não é suficiente para indicar que será desenvolvido um tumor: cerca de 291 milhões de mulheres são portadoras do HPV, mas a incidência anual mundial é de 500 mil casos de câncer de colo do útero.

Dani aproveita para lembrar  da importância da vacinação para combater esse tipo de tumor: “Graças a Deus temos vacina. Vamos acabar com isso para a gente não ter que ouvir nada de câncer de colo de útero no futuro”.

 

6 meses de angústia até o diagnóstico

Um exame papanicolau de rotina em setembro de 2021 apontou a possibilidade de ela ter HPV. “Não estava no meu radar, não tinha informações sobre isso, mas pesquisei e me assustei porque sabia que era um vírus que poderia provocar câncer”.

Começaram os exames para verificar: fez colheita de HPV e confirmou que havia a presença do vírus, depois outro exame iria avaliar qual era o tipo – nem todo tipo de HPV é considerado oncogênico.

O resultado indicou que o tipo de HPV dela era de alto risco para desenvolver tumor; em novembro fez colposcopia, mas o resultado da biópsia foi inconclusivo. “A pessoa começa a viver uma novela desesperadora na vida privada, porque tudo passa a depender disso; você não sabe se vai poder viajar, se programar, está meio amarrada àquela circunstância”.

Ela fez em fevereiro um processo de conização (neste procedimento cirúrgico, também chamado de biópsia em cone, é retirado para biópsia um pedaço do colo do útero em formato de cone), que constatou o carcinoma. “De setembro a fevereiro investigando, eu fazendo tudo que tinha que ser feito, seguindo todas as recomendações médicas e só tive o diagnóstico em 15 de março, mesmo com plano de saúde”.

A paciente ainda teria que enfrentar outra dúvida: na cidade em que vive, Indaiatuba, interior de São Paulo, o resultado apontou que era um câncer em estágio avançado. “A primeira coisa que pensei foi: ‘meus filhos! Não posso morrer, não. Tenho que criar meus filhos, tenho um bebê. Não tem essa possibilidade, tenho muita coisa para fazer ainda. Esse negócio não vai dar certo, não”, comenta sorrindo ao lembrar como encarou quando soube que tinha o câncer e decidiu como iria enfrentar. Foi nesse momento que pensou: “Essa doença com certeza pegou a pessoa errada. Vou fazer o que tem que ser feito, vou seguir os protocolos médicos e trabalhar principalmente a questão emocional para não ficar me vitimizando, não achar que a minha vida vai acabar. É um drama existencial, mas eu resolvi que ia ser agente da minha história, que ia ser protagonista e não deixar nada me abalar”.

Procurou um hospital de referência em São Paulo para ter outra opinião e no A.C. Camargo, que refez todos os exames, a revisão da lâmina da biópsia indicou que na verdade era um câncer em estágio mais inicial. “Isso foi muito bom, mas sempre existe a dúvida: será que é mais leve mesmo? Em um deles eu teria que fazer histerectomia total, tirar várias coisas que eu nem sabia que tinha dentro de mim, no aparelho reprodutor, e outro era super simples, fazer conização e ver se ficava a margem livre, porque minha margem estava comprometida”.

Ela passou por uma segunda conização, em abril, dessa vez mais profunda, teve complicações e precisou ficar vários dias internada. “Fui sabendo que era algo simples e o melhor ia acontecer, que eu ia tratar e tudo ficaria bem. Na segunda conização, graças a Deus eles conseguiram tirar tudo a ponto de eu não precisar fazer mais nada”, comemora. Agora fará acompanhamento a cada quatro meses por dois anos e, depois, de seis em seis meses.

 

Compartilhar para combater preconceito

Dani conta que quando não está bem gosta de colocar seu foco em ajudar outras pessoas – e assim acaba melhorando. Pensou que compartilhando o que estava passando poderia ajudar outras mulheres que precisassem ouvir uma mensagem. “Decidi passar por isso bem acompanhada, porque as pessoas que me seguem já me acompanham em outras coisas que vivo”.

Uma semana depois do diagnóstico, explicou tudo para seus mentorados, alunos e sua audiência. “Sempre falo o que está acontecendo comigo. Toda pessoa tem altos e baixos e qualquer mulher que já tenha tido relação sem camisinha uma vez na vida pode passar por esse fantasma do HPV”. Ela quis compartilhar porque viu que existe bastante preconceito, recebeu muitas mensagens de mulheres confessando que não têm coragem de falar. “Uma mulher disse que o ex-namorado a acusou de ter passado o vírus para ele. Fui pesquisar e vi que não tem como saber de onde veio, de quem pegou”.

 

“Todo caos interno começa com uma tristezinha”

Buscar resultados em vez de se vitimizar – Dani acha que essa decisão agilizou seu processo, mas avisa: “isso não quer dizer que eu não tenha caído no fundo do poço em outras situações. Como tive depressão em 2011, ali aprendi a lidar com esse tipo de situação, depois vivi momentos terríveis tanto na vida pessoal quanto profissional e eu não me deixei mais abalar porque sei que todo caos interno começa com uma ‘tristezinha’. Todo mundo tem o direito de ficar triste, a gente não precisa ser feliz e saltitante o tempo inteiro, mas se você abre a porta para essa tristezinha, vira tristezona, toma conta da sua vida, atrai mais doenças e vira uma bola de neve”, avalia. “Todo mundo tem do que reclamar. Tudo depende da forma como enxergamos a vida. Foi uma ótima oportunidade para eu me testar, ver se estava fortalecida”.

Essa postura, acredita, é fruto do que construiu ao longo da vida, que começou ainda na infância com a criação focada em um olhar positivo, independentemente do que estivesse acontecendo, para que fosse autora da sua própria história. Contou com apoio da família, do marido e das pessoas que a acompanham nos cursos, nas mentorias e nas redes.

“As pessoas têm medo de contar e serem julgadas, só que na verdade quando você expõe uma vulnerabilidade as pessoas se conectam. Quando contei o que estava vivendo, muitos me deram força”.

 

Presente e mudanças de rota

Dani considera que para ela o câncer foi um grande freio de mão, um indicador de que era preciso avaliar se estava no melhor caminho e lidar com sua vida de maneira mais equilibrada. Decidiu refletir sobre as escolhas que estava fazendo na vida pessoal e principalmente profissional. “Vi que em várias escolhas eu não estava sendo 100% eu mesma, não estava me escolhendo”.

Trabalhava demais, tinha criado uma nova empresa – que desfez depois do diagnóstico, porque viu que não fazia sentido para ela. Refletiu sobre as decisões que estava tomando e promoveu diversas mudanças a partir dessa reflexão. “Foi um processo de resgate. Tem a ver com a minha essência. Eu me perguntei: ‘será que as coisas que estou falando na internet, os produtos e serviços que estou criando, têm congruência comigo e com meus valores? As pessoas com quem estou convivendo me levam para o mais ou estão sendo tóxicas?’. Com essas análises vi que tinha mudanças que precisava fazer, inclusive com alimentação mais saudável, prática de exercício físico, trabalhar menos, passar mais tempo com a família”. Nesses três meses conversou com quem precisava, desfez negócios, tomou outros rumos.

“Pessoas que tiveram câncer, com as quais eu convivo, sempre disseram a mesma coisa, que foi um presente. Para mim também. Na hora que dei a notícia do diagnóstico para uma amiga, ela me deu os parabéns, disse que era uma grande oportunidade de resgatar a minha essência e refletir sobre as decisões que vinha tomando”. Foi o que fez.

A quem vive a angústia do diagnóstico, deixa sua mensagem: “Câncer não é sentença de morte. Li isso quando fui pesquisar e tenho total clareza de que não é mesmo. Vou fazer acompanhamento por vários anos, não sei quando vai acabar, mas não quero que isso se transforme em expectativa do mal. O medo é isso: expectativa do mal e não quero isso toda vez que for fazer exame. Não transforme algo, por mais difícil que seja, em uma coisa ainda maior. As coisas têm a proporção que damos a elas. Busque o melhor tratamento que tiver, a medicina evoluiu bastante nesse aspecto, existem vários hospitais de referência mesmo no Sistema de Saúde. Faça uma lista de tudo que você precisa mudar, que está fora de rota e você não tinha observado. Lembre que é uma oportunidade”.

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