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Câncer de pulmão: vamos falar sobre pacientes não fumantes

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Este é o mês de conscientização sobre o câncer de pulmão. Conhecido como #Agosto Branco, é o momento do ano para alertar ainda mais sobre riscos, prevenção, diagnóstico precoce e tratamento desta doença. Em geral, as campanhas reforçam sobre o principal fator de risco: o tabagismo.

Entretanto, há um aspecto nem sempre abordado, que merece toda a atenção. Há muitas pessoas não tabagistas que descobrem que têm câncer de pulmão, como aconteceu com Renato Astur, triatleta que nunca fumou e sempre teve uma alimentação equilibrada. Nós já contamos um pouco da história dele aqui

Justamente por não se enquadrar dentro dos parâmetros dos principais fatores de risco, ele demorou para receber seu diagnóstico. A indignação com esta demora deu espaço para a inspiração que o levou a escrever o livro “Eu não fumo!”. A ideia é chamar atenção de pacientes e profissionais de saúde para o fato de que não fumantes também podem desenvolver esse tipo de tumor.

Pesquisa desenvolvida por um grupo de Washington-DC, apresentada no Congresso Europeu de Câncer de Pulmão, em março deste ano, em Copenhague, na Dinamarca, acompanhou durante 23 anos, 2.505 pessoas, sendo 1973 que nunca fumaram. O resultado foi que 0,5% dos não fumantes tiveram câncer de pulmão nesse período e os que fumaram menos de um maço por dia representavam 5% dos casos da doença.

Para entender as necessidades específicas dos pacientes com câncer de pulmão que nunca fumaram, que são diferentes dos fumantes, membros do Comitê do National Cancer Research Institute’s Lung Group (NCRI-LG) no Reino Unido realizaram um estudo recente, que foi publicado no BJC Reports.

Eles identificaram lacunas em toda a jornada desses pacientes, como atraso no diagnóstico, o que dificulta bons resultados nos tratamentos e afeta as taxas de sobrevivência. O trabalho aborda a necessidade de avaliação de forma abrangente do risco genético e desencadeantes ambientais para essa doença.

O oncologista Antonio Carlos Buzaid, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer, ressalta que cerca de 99% das pessoas no mundo vivem em cidades cuja qualidade do ar é inferior à recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Esse elevado nível de poluição atmosférica contribui com sete milhões de mortes prematuras a cada ano e com até 15% da mortalidade por câncer de pulmão”.

Ele afirma que diversos estudos vêm demonstrando correlação entre o aumento do risco de câncer de pulmão e a exposição aos poluentes presentes no ar. “Em 2013, a poluição atmosférica foi classificada como um fator carcinogênico pela International Agency for Research on Cancer (IARC). A análise de 5.565 cidades brasileiras no período de 2010 a 2018 mostrou que o contato ambiental com material particulado fino a longo prazo aumentou o risco de mortalidade por vários tipos de tumores, incluindo o câncer de pulmão”.

Quer saber mais sobre câncer de pulmão? Veja o vídeo. Acesse também nosso canal no YouTube

Até metade das mulheres com câncer de pulmão nunca fumaram

“De 15% a 20% dos homens com câncer de pulmão nunca fumaram e nas mulheres esse índice chega a 50%”, alerta o oncologista clínico da BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, Marcos Magalhães. “Estudos demonstram que, nesses casos, geralmente o tumor se desenvolve em homens mais jovens. É mais fácil uma mulher que nunca fumou ter câncer do que um homem nessa condição – e a maioria tem adenocarcinoma”.

E o que pode influenciar para o desenvolvimento desse tumor em não fumantes?

Dr. Marcos Magalhães relaciona o tabagismo de segunda mão (conhecido como fumante passivo), e o tabagismo de terceira mão – essa, diz, uma consideração ainda teórica, levando em conta quando a pessoa fuma no ambiente e as partículas ficam sobre a superfície, podendo ser absorvidas pela pele.

Ele lembra também a idade como fator de risco, radiação e as mutações EGFR e ALK, que se mostram mais presentes em pacientes que não têm história de tabagismo. Pessoas com doença pulmonar crônica (DPOC) possuem até duas vezes mais risco de desenvolver câncer de pulmão em relação às que não têm.

O oncologista Fernando Maluf, também um dos fundadores do Instituto Vence o Câncer, aborda a influência da questão genética citando um estudo que comparou 116 pacientes fumantes, sendo que parte desenvolveu câncer de pulmão e outra parte, não.

“Na comparação do material desses pacientes do ponto de vista molecular, constatou-se que 33 genes eram diferentes entre o grupo que teve câncer em uma idade precoce versus o grupo que fumou e não teve câncer, o que explica porque, a despeito do fator de risco, algumas pessoas desenvolvem tumor em relação a outros”, pondera.

“O fator de risco é um gatilho, mas talvez tenha que existir predisposição genética junto com fator de risco e essa combinação aumenta de modo significativo o desenvolvimento de um câncer como o de pulmão”, acrescenta Maluf.

Porque precisamos falar sobre os pacientes não fumantes

Os protocolos de rastreamento para o câncer de pulmão, com exames de imagem, são realizados em pacientes com alta carga tabágica e com idade mais avançada, já que a idade média do diagnóstico é de 70 anos e apenas 10% dos pacientes têm menos de 55 anos.  Por isso, pacientes jovens não fumantes que desenvolvem esse tumor têm mais chance de descobrir já em um estágio avançado, quando aparecem os sintomas. E o diagnóstico precoce é fundamental para reduzir as taxas de mortalidade. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) o câncer de pulmão é o tipo de tumor que mais provoca mortes pelo mundo.

“Ainda não há guidelines para pacientes não fumantes”, afirma Dr. Marcos Magalhães. Ele lembra que não seria viável acompanhar toda a população, mas opina que talvez deva-se começar acompanhamento em pacientes com histórico familiar da doença e com as mutações EGFR e ALK. A dificuldade é ainda maior, avalia o oncologista, porque a doença é silenciosa, ou seja, quando os sintomas chegam, o tumor costuma estar em estágio avançado. Além disso, os sinais são abrangentes, como tosse e rouquidão, que podem aparecer por diversos fatores. “Entre 60 e 65% são diagnosticados com doença avançada, com estadiamento III a IV”. A indicação do Dr. Marco Magalhães é: se uma pessoa que não tem histórico de tosse começar com esse sintoma e ela não melhorar, persistindo por muito tempo, o ideal é procurar um pneumologista.

Viviane Pereira

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