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Câncer de pulmão: os desafios do tumor com maior mortalidade do mundo e as boas notícias em tratamento

Boas notícias sobre tratamentos de câncer de pulmão

 

Um diagnóstico de câncer sempre assusta. Se for do tipo de tumor com a taxa mais alta de mortalidade no mundo, o impacto pode ser ainda maior. Para Margarete Tavares, além desses sentimentos, houve também a surpresa ao descobrir que, mesmo sem nunca ter fumado, estava com câncer de pulmão. A doença também é o primeiro tipo de tumor no mundo em incidência, responsável por cerca de 13% de todos os novos casos de câncer. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é o segundo mais comum em homens e mulheres (sem contar o câncer de pele não melanoma).

O Agosto Branco, mês de conscientização sobre a doença, é importante para reforçar o alerta de que o tabagismo é o principal fator de risco. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, homens fumantes têm 25 vezes mais chances de desenvolver o tumor do que os não fumantes e entre as mulheres o índice é de 25,7 vezes.

“Cerca de 80% a 90% dos casos de câncer de pulmão são relacionados ao tabagismo”, alerta Suellen Nasti Castro, oncologista clínica na Beneficência Portuguesa – BP Mirante. Entre os que nunca fumaram, as causas mais comuns são tabagismo passivo, gás radônio, poluição ambiental e exposição ao asbesto (amianto). “A pessoa exposta ao asbesto que fuma tem o risco de desenvolver mesotelioma (câncer das pleuras, capa que envolve o pulmão) ou câncer de pulmão superaumentado. Por isso, principalmente para essa população é importante a cessação do tabagismo”. A oncologista afirma que o tabagismo passivo também é bastante importante e eleva muito o risco.

Além dos fatores ambientais, há ainda as causas genéticas que podem levar ao desenvolvimento do tumor – e foi exatamente o que aconteceu com Margarete.

 

Depois do susto, a esperança

Ela estava com gordura no fígado, passou por consulta com endocrinologista e nutricionista para emagrecer. “Emagreci bem rápido. Todo mundo dizia: ‘Nossa, que regime bom’. Tinha gente que queria fazer, eu falava que não podia, cada pessoa é diferente”, recorda.

Por conta de uma tosse seca que começou de repente, foi ao pronto-socorro. Como o resultado do raio-X não apresentou alteração, o médico disse que provavelmente era uma tosse alérgica. O medicamento não resolveu, a tosse continuou e Margarete voltou ao hospital. A consulta foi com o mesmo médico, que lembrou do caso, solicitou uma tomografia pulmonar e recomendou que procurasse um especialista.

“Fiz o exame, sem contraste, e cinco dias depois me ligaram e pediram para retornar ao ambulatório e fazer exame com contraste. Nem desconfiei”, comenta. “Minha filha, muito curiosa, resolveu dar uma olhada e achou que estava alguma coisa diferente. Falou com minha sobrinha que é médica, sem eu saber”.

Margarete estranhou quando viu na sala da sua casa as outras duas irmãs, os dois filhos e as sobrinhas. “Como uma sobrinha estava grávida, pensei que tinha acontecido alguma coisa com ela. Minha sobrinha médica contou tudo e foi um choque para mim e para minha família”. O diagnóstico era de um tumor no pulmão, com 11 cm x 7 cm.

“Era bem grande. Não tive falta de ar nem nada; só a tosse seca mesmo, sem catarro. Minha sobrinha falou: tia, vamos procurar um hospital e vou pedir uma biópsia bem rápido”. Entre os hospitais atendidos pelo plano de saúde, Margarete sabia que não queria o mesmo que lhe trazia tristes lembranças, da irmã mais nova que havia falecido anos antes, aos 50 anos, com câncer de fígado e intestino. Escolheu a Beneficência Portuguesa.

“A médica falou que seria bom fazer o teste genético para saber se tinha alguma mutação, porque existe um remédio bom nesses casos. Mas avisou que seria uma probabilidade mínima”. O exame, que normalmente é realizado nos Estados Unidos, por conta da pandemia, estava sendo feito no Brasil. A paciente fez o teste americano, mas para agilizar o resultado, realizou também no país – este, deu positivo para a mutação ALK, que representa cerca de 5% dos casos desse tipo de tumor.

“Fui agraciada por Deus. Foi positivo e eu pude tomar o remédio. O resultado dos Estados Unidos veio depois e deu negativo. Se eu tivesse feito apenas lá fora, talvez não pudesse  tomar esse remédio e estaria fazendo quimioterapia”, explica. “Os médicos ficaram surpresos, nunca aconteceu isso; vai saber quantas pessoas deram negativo e talvez pudessem tomar o medicamento”.

Por causa da alteração genética ela pôde tomar imunoterapia recomendada para esses casos. “Comecei em maio do ano passado a tomar alectinibe e ainda estou tomando. Graças a Deus não passou para lugar nenhum, inibiu o tumor. Agora os médicos vão ver se começo radioterapia, se continuo com o remédio”.

Independentemente da sequência que terá seu tratamento, Margarete sabe que seguirá com fé, a mesma que a mantém firme desde o diagnóstico. No início não foi fácil, principalmente lembrando do sofrimento da irmã que enfrentou o câncer cinco anos antes. “Eu dizia que se tivesse essa doença, não iria fazer nada, que não iria ficar fazendo quimioterapia, vendo meus filhos e meu marido sofrerem. Mas quando você tem uma notícia dessa, você quer lutar. Quando recebi o diagnóstico, pensei: ‘nunca fumei, não bebo. Como apareceu um câncer no meu pulmão?’. No início queria saber por que comigo. Depois decidi que tinha que ir à luta. Acredito que Deus não dá a luta para quem não é guerreiro. Eu tive ansiedade no ano passado, porque queria resultado rápido. Comecei a tomar remédio para ansiedade, engordei um pouco – tinha perdido muitos quilos. Meu cabelo não caiu, não tive enjoo. Hoje estou mais forte, parece que não tenho nada. Sou uma pessoa de muita fé e acredito que temos que entregar na mão de Deus e confiar. Eu não nasci com esse tumor, então ele não pertence ao meu corpo. Ele vai sair daqui. A medicina está avançada, aparecem muitos remédios. Antigamente a palavra câncer era morte, hoje não é mais”.

 

Muitos avanços em tratamentos nos últimos anos

As novas opções de tratamento para câncer de pulmão têm garantido bons resultados para várias situações. Suellen revela que nos últimos quatro a cinco anos houve bastante inovação para esse tipo de tumor. Para pacientes metastáticos, em que já foi diagnosticada a doença em outro órgão, a imunoterapia passou a fazer parte do tratamento. “Mudou muito a história natural da doença. Os pacientes vivem melhor e por mais tempo”, afirma. “Para pacientes com mutações no tumor, temos terapia-alvo. É preciso identificar qual a mutação, porque há remédios diferentes para os tipos de mutações”.

Mais recentemente, destaca, houve inovações relacionadas à doença localmente avançada. “São doenças que não são operáveis. Está apenas no pulmão, mas não é possível fazer cirurgia, seja porque está grande, seja porque tem comprometimento dos linfonodos, do mediastino. Para esses pacientes, temos tratamento de consolidação com quimioterapia e radioterapia seguido de imunoterapia por um ano. Também foi uma inovação que veio nos últimos anos e melhorou muito a sobrevida. Os pacientes recorrem menos com essa abordagem”.

A oncologista cita uma novidade ainda mais recente, deste ano, com dados de imunoterapia em casos cirúrgicos: “O paciente é operado e pode ter ou não indicação de tratamento para diminuir o risco de recorrência, com opções tanto de imunoterapia quanto de terapia-alvo”.

Existem pesquisas sendo realizadas que podem trazer mais boas notícias para o câncer de pulmão. “Há estudos em andamento para tratamentos antes da cirurgia, em casos em que a doença é um pouco maior, pode ser difícil operar e necessitará de tratamento posterior. Nessas situações talvez possa ser realizado um tratamento prévio para reduzir o tumor e fazer a cirurgia com mais segurança e maior chance de retirada do tumor. Também temos imunoterapia e terapia-alvo nesse cenário”.

 

Rastreamento para fumantes

Diagnosticar um tumor precocemente aumenta as opções de tratamento e as chances de cura. Por isso, no caso do câncer de pulmão, há indicações de rastreamento direcionado a fumantes. Suellen esclarece que antigamente acreditava-se que o raio X poderia ser uma boa alternativa, mas estudos demonstraram que o exame só identificava lesões maiores, com a doença avançada. “Hoje temos isso bem estabelecido, publicações importantes e programas de rastreamento para câncer de pulmão com tomografia de baixa dose de radiação”.

A recomendação atualizada, publicada este ano pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF, da sigla em inglês), sugere que seja realizada tomografia computadorizada de tórax com baixa dose de radiação em fumantes – ou ex-fumantes que pararam há menos de 15 anos – de 50 a 80 anos com histórico de 20 “anos-maço” (um “ano-maço” = consumo de um maço por dia durante um ano ou quantidade equivalente).

A oncologista acrescenta que existem estudos para identificar outras populações em que seria importante ter esse acompanhamento. “Há muitas pessoas, principalmente nas regiões asiáticas, que nunca fumaram e têm câncer de pulmão. Pode ser por história familiar, pessoas que usam fornos que não são a gás, como os de carvão. Estudos estão avaliando as populações não tabagistas que se beneficiariam do rastreamento”.

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